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29 de nov. de 2011

Falta-me uma moldura



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"E deslumbrado com o renovo daquelas orquídeas que pareciam vivas entre a tinta e o tecido, percebi que faltava uma moldura para coroar a majestade dos tons amarelos e pétalas roxas. Faltava  cirandar a pintura com a majestade que lhe era digna, que fosse capaz de abraçar com carinho aquelas flores que faziam reluzir a existência."

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Falta-me uma moldura 

Um tanto cansado de percorrer as galerias da vida, vendo as mesmas pinturas, fui acometido pelo novo que irrompeu como uma mostra de beleza, despontando das amálgamas amorfas que mofavam nas paredes. Aquele lodo, aqueles fungos esverdeados, nascidos do tempo em fusão com a umidade de mazelas e conflitos, viram-se imersos na beleza que adentrara no salão, preenchendo de cor e graciosidade o recinto.
Era uma tela vívida, em tons suaves e belos. Surgira de mãos que esforçosamente se deram ao empenho de colorir o mundo e preencher a vida. Eram orquídeas,  poesia que transformara-se em imagem, acariciando os olhos com um encantamento puro que tão somente reluzia esperança.
E deslumbrado com o renovo daquelas orquídeas que pareciam vivas entre a tinta e o tecido, percebi que faltava uma moldura para coroar a majestade dos tons amarelos e pétalas roxas. Faltava  cirandar a pintura com a majestade que lhe era digna, que fosse capaz de abraçar com carinho aquelas flores que faziam reluzir a existência.
Absorto entre as moldura que escolheria, mergulhei fundo no sentido que permeava a grandeza do momento. Por mais que houvesse harmonia entre as orquídeas e o contorno que me arriscava a acrescentar em algo já tão sublime, jamais seria capaz de conter os limites eternos por elas tocados, a vastidão percorrida pelos sentimentos e boas sensações, inabaláveis, poéticos e verdadeiros baluartes do sentido que há em viver.
Ainda que me falte uma moldura, sobram os motivos para olhar a vida com bons olhos. De fato, transbordam as razões para fitar o caos de minha parede e me ater a dias melhores.
Tudo isto surgiu de um gesto de generosidade, uma atitude de amizade, carinho e zelo. Atitude tal quero carregar em minha memória, de forma que eu seja capaz de fazer os mesmo pelos que estão à minha volta. Quero seguir o exemplo e proporcionar telas de sonhos, orquídeas de beleza e rosas rubras; quero dar aos corações o trabalho de imaginar para si molduras...

Escrito por Edward de A. Campanário, em agradecimento à bela pintura que ganhei de Gisele dos Anjos.
    

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