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24 de nov. de 2011

Rompendo o silêncio


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"Considero a dimensão do silêncio uma esfera existencial de múltiplas faces, um caminho longo, deserto e dúbio quanto aos seus próprios sentidos e consequências. Sua configuração toma proporções completamente opostas de acordo com a disposição que se observa no momento em que se adentra às suas portas. Quase sempre, a rota de saída revela-se no momento em que se viu a inserção em seus jogos e mistérios."

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Rompendo o silêncio

Às vezes o coração demanda um silêncio para não se perder de seus rumos e reflexões, o que não significa ausência de ruído, já que todo um mundo de caos se agita à nossa volta, tentando pouco a pouco nos castrar o sentido e razão. De fato, quer queiramos ou não, estamos inseridos numa guerra diária contra o sistema, a frieza, o automatismo, a distância... a derrota significa ser tragado para o interior da amálgama cinzenta que, gradualmente, ilude a humanidade e a conduz ao caminho da destruição e colapso.
Para não sucumbir às vozes dos desafios que constantemente avançaram sobre minha existência, busquei um tanto da reclusão do silêncio, de forma que eu não perdesse a centelha da reflexão. Diria que não contemplou ao meu ideal de expansividade das palavras, mas manteve vivo o desejo de ir além, de prosseguir nas batalhas que vão e vêm. Creio que o que contempla tal pensamento seria a máxima de que o silêncio implica um desejo futuro da expressão, de se abrir as comportas da alma para a exaltação de tudo que foi, de forma quieta e serena, vivido e sentido no momento da dor.
Considero a dimensão do silêncio uma esfera existencial de múltiplas faces, um caminho longo, deserto e dúbio quanto aos seus próprios sentidos e consequências. Sua configuração toma proporções completamente opostas de acordo com a disposição que se observa no momento em que se adentra às suas portas. Quase sempre, a rota de saída revela-se no momento em que se viu a inserção em seus jogos e mistérios.
Tais apontamentos justificam-se na própria configuração humana que, a meu ver, explica-se mais pelas perguntas que erguem-se à sua volta que nas respostas existentes. Olhando o silêncio como uma consequência das escolhas do ser, diria que as questões que envolvem o ingresso em seus domínios é que definirão os rumos dos caminhos que ali se farão trilhados. Sendo assim, então quais seriam as perguntas capazes de revelarem o silêncio? Que questionamentos atenderia m a demando da noção sobre as rotas futuras no momento da reclusão e remanso da alma?
Se pensarmos profundamente nas coisas que de fato significam e dão cores à vida, basta olharmos às motivações que nos levam a nos calarmos. Se tivermos consciência das motivações que nos conduzem ao silêncio, tatearemos uma rota menos sombria como superação de seus desertos. Insisto que as perguntas mais simples evocam as reflexões mais complexas. Perguntas que silenciam dão pistas de quem somos, o que queremos ser e o que de fato estamos nos tornando.
O que te conduz ao silêncio? Uma fuga vazia das misérias da vida? A revolta surgida dos fracassos e objetivos não alcançados? Seu silêncio é um dar de costas à vida ou uma necessidade de aprendizado? Tais questões, em si, já apresentam consequências sutis...
Quem usa do silêncio para se isolar verá aos poucos sua existência vestir-se do vazio; se for tomado como rota de fuga, criará um mundo em eterna diáspora; se for uma resposta impensada ao fracasso e insatisfação, imporá clausura à liberdade.
Só nos fará bem o silêncio que irrompe em brados de superação. Será satisfatória a quietude que prepara e alimenta estrategicamente o desejo da fala, de se compartilhar as duras penas e apontar a outrem que existe beleza em meio ao marasmo e crueldade que a tudo ronda e a tudo tenta sorver.
Ao fim de tudo, do silêncio, em seus caminhos, nos caminhos que se darão ao se vencer seus labirintos... o que definirá os rumos para a superação serão as escolhas. Sim, as escolhas que transcendem nosso próprio desejo individual, que edificam nossos semelhantes, estas, sim, serão os inabaláveis que nos conduzirão à felicidade. 
Tudo isto me eleva a romper meu silêncio...

Escrito por Edward de A. Campanário Neto - em homenagem às amigas Kelly Souza e Gisele Anjos       

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