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27 de nov. de 2012

Semeadores de estrelas



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Colher estrelas nos céus para depois semeá-las na terra. Enfrentar o medo da sombra da noite para lançar um pouco de luz nas trevas que lançam os grilhões que aprisionam o coração acuado... Algo que se destinaria a quem mediante ao espanto e momento de derradeiro desespero?  


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Semeadores de estrelas

Depois que o sol se vai, ao olharmos pela janela, lá fora espreita um jardim escuro e sombrio. As arvores balançam seus galhos retorcidos que mais parecem mãos afoitas para tomarem nossas exasperações para com elas gesticularem um frenesi sinistro e de medo.
 O som suave das brisas vespertinas se transmuta em sussurros que carregam a voz fria e seca da morte, aquela senhora de mãos ossudas que voa com seu manto negro sob a face da noite. A grama faz torna-se campo onde se ouve o baque surdo de cabeças que rolam sob o peso de sua foice, o terreno que abriga os passos das almas errantes e agonizantes que penam seus perjúrios e castigos entre o mundo dos vivos e mortos. 
Na parede o relógio que marcava animosamente o correr das horas em suas delícias da manhã agora tem em seus ponteiros uma sina cega e aterrorizante. Não conta ele minutos a mais daquilo que se viveu, mas cada minuto que se perdeu para todo sempre, na ânsia da derrota. Perda de tempo, perda da vida, perda de si mesmo... 
A casa aconchegante é agora uma fortaleza de segurança duvidosa, um mausoléu de assombrações e espantos que habitam nos quadros, no ranger das portas e nas batidas estranhas nas janelas. No espelho há a sensação de um vulto que se manifesta como reflexo estranho e medonho de uma nêmesis envolta em enxofre e fumaça. E quando o ser se atreve a olhar não era ninguém, não há ninguém a não ser ele mesmo. 
Mas não haveria mesmo de ser alguém. Tão somente os labirintos de tal coração receoso do próprio ser é que poderiam criar um mundo que, sem existir, existe. O medo, a inação, a decepção, a perda, criam o arquétipo de uma existência fadada à dor e inundada de demônios que vão daqueles que possuem chifres e cauda até aos sutis que se escondem no vício, no vazio, na solidão.
Evocada a ilusão deste mundo, basta que o sol dos bons momentos se ponha para erguer-se um castelo de brumas maléficas, um castelo de cartas formado somente de coringas zombeteiros. Às vezes os sortilégios que trazem tudo à tona se mascaram em uma perda, uma decepção, um amor que se foi, um fracasso qualquer que transita entre o comum e trágico.
E o que fazer quando a escuridão deixa o mundo do ser para ser o mundo? Aproximando-se as nuvens da tormenta, os gritos das banchees, como não sentir o temor, tal qual o temor dos enforcados em seu grito derradeiro junto ao grito das mandrágoras? 
Muitos são os caminhos, muitas as escolhas. Alguns se esconderão em sua casa mal assombrada; outros sucumbirão à loucura e correrão tais como cães famintos pela noite fria; uns ainda vivos beberão e se envenenarão do café morno da morte e se perderão entre os fantasmas que vagam à sua volta; muitos tentarão se defender de suas mazelas com seus patuás ou deuses imersos em meias verdades ou mentiras inteiras, caindo na sina de que tudo ficará bem; e, ainda, haverá aqueles que irão aos céus sombrios, traspassando as nuvens densas e gélidas para lá colherem as estrelas que carregam o brilho que as tirará de uma escuridão total.
Colher estrelas nos céus para depois semeá-las na terra. Enfrentar o medo da sombra da noite para lançar um pouco de luz nas trevas que lançam os grilhões que aprisionam o coração acuado... Algo que se destinaria a quem mediante ao espanto e momento de derradeiro desespero? 
De fato quem somos nós mediante a dor? Pensar em ir ao encontro das estrelas pode parecer demasiado absurdo em tais momentos. E por nós mesmos não há como conseguir, mas tão somente através daquilo que se desloca um pouco do ser, que vai além. Uma boa lembrança, o resgatar de sentimentos e sensações de quando estivemos e fomos felizes. Um lugar, talvez; uma pessoa amada ou simples palavras que nos dão certa ousadia não para deixarmos de temer, para suficientemente suportarmos e enfrentarmos nosso próprios medos.
E o que nos impulsiona para além de nós mesmos é a disposição pelo novo. É preciso mais que esperança para alcançarmos nossos sonhos e vencermos as quimeras que nos assolam. Esperança muitas vezes é crença cega, rota vazia ou um passo para o abismo, pode ser um persistência sem sentido e que traz mais feridas. Mas sair para colher e semear estrelas é diferente. Não nega a dor, não finge que ela não existe. Não! Aceita a vivência de um momento através de uma esperança revestida na concretude de que pequenos pontos de luz são suficientes em meio à escurdião até que o sol surja para varrer a noite e levar o medo.
Semear estrelas é aceitar a finitude, a consciência de que a vida é um ciclo que se segue em seus momentos de satisfação e dor e que nem, por isso é um marasmo cinzento. É fitar o pouco como muito e o muito como nada; o tudo como coisa nenhuma, o nada como todas as coisas; tudo sobre o firme fundamento de que a vida é curta e a intensidade daquilo que vivemos nos momentos em que nos permitimos viver de forma plena é que farão toda a diferença em relação ao que definimos por felicidade. 
 Que sejamos todos semeadores dos sentimentos e práticas que dão cor e tom à existência. Que possamos sair nas trevas da noite densa para semearmos estrelas em nossos caminhos e nos caminhos de quem amamos e queremos bem, colorindo a existência com ladrilhos celestes, amenizando sombras e dores na busca da alvorada com seu doce ar de renovo. 

Escrito por Edward de A. Campanario Neto



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"Semear estrelas é lançar luzes às trevas que nós mesmos criamos."
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3 comentários:

rodolfo boing mr disse...

seus pensamentos são muito bons continue escrevendo, mesmo com poucos fas, oque importa é que vc se sinta bem com isso, tenho um site de pensamentos também, sem nenhum membro durante anos, mais mesmo assim continuo postando e fico feliz.

rodolfo boing mr disse...

seus pensamentos são muito bons,continue postando, apesar de não ter muitos fans, pq oque realmente importa é que vc se sinta bem com isso pois tem gente que nunca perde uma DEUS.

rodolfo boing mr disse...

continue postando muito bons.