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5 de mar. de 2012

Eu sinto que sei que sou...


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Por não saber o que exatamente sou, sinto que sei que sou... Poeta, valete de copas em carteado, um qualquer que viu o coelho branco e correu junto de Alice. Talvez aquele sonho de início de manhã, manhã de Agosto, vento de Setembro ou aquelas águas de Março encerrando o verão. Março... posso ser um incauto convidado naquela mesa de chá com a Lebre de Março, ou naquela estória sombria da vez de Outubro.

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Eu sinto que sei que sou...

À medida que discorre o tempo, vamos nos construindo, definindo nossos brios e caminhos. E nada melhor que chegar a certo ponto da vida e olhar para uma jornada que se trilha, com certas rotas já delimitadas e um grande horizonte de possibilidades. De fato, não sabemos o que somos, de onde viemos ou para onde vamos, já que até nosso interior é um mundo de mistérios profundos e complexos, mas temos conosco certo tom que nos evoca à busca e à uma pequena centelha que no impele aos desejos, sonhos, medos...
Neste momento sinto que sei que sou algo. Emana a liberdade, uma linfa nas vias do pensamento que cria seus próprios infinitos e os vasculha, de forma que não há limites que sejam intransponíveis. Sinto que sei que sou eu mesmo com minhas quimeras e leviatãs, com meus rios em direção ao mar, com meus oceanos que acolhem águas doces que escorrem dos veios da terra.
Por não saber o que exatamente sou, sinto que sei que sou... Poeta, valete de copas em carteado, um qualquer que viu o coelho branco e correu junto de Alice. Talvez aquele sonho de início de manhã, manhã de Agosto, vento de Setembro ou aquelas águas de Março encerrando o verão. Março... posso ser um incauto convidado naquela mesa de chá com a Lebre de Março, ou naquela estória sombria da vez de Outubro.
Quem sabe não seria aquele gato Serafim de olhos amarelos, que tanto temor trazia a certos mundos? Posso ser a cabeça que rolou para debaixo da árvore, ou, ainda, mais uma cabeça arrancada pela Rainha Má de Copas. E o sono do campo de papoulas? Poderia nele dançar com sapatos de rubi, ser aquele balde de água fria que trouxe fim à Bruxa do Oeste; seria até mesmo aquela estrada de tijolos amarelos.
E entre o que seria ou não seria, penso no brilho em meio à escuridão da noite do laboratório de Marie Curie, em segredos do Rei do Fogo e naquele mistério sombrio de um vulto em meio às águas. Mas sei que voaria da Pedra da Bruxa, rasgando os céus para o infinito e além como Buzz Lightyear, tendo em reflexão a grande cadeia do ser.
Não teria medo de comer a ave do sol, atravessar as brumas de Avalon, tomar da pílula vermelha oferecida por Morpheus ... Tão somente iria pensar e transgredir, fugir à regra num impulso de liberdade. Tudo isto para acalentar e criar este meu mundo que não é só meu, mas também daqueles a quem amo e a quem quero bem. Tudo isto me leva a pensar que sinto que sei que sou um tanto bem maior...

Escrito por Edward de a. Campanario Neto, nos devaneios da celebração de mais um ano de vida, tomando como referência as leituras e reflexões mais marcantes no ciclo mais recente da existência.
Para complementar, deixo uma música, que tem um quê deste todo que me compõe:


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