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9 de mai. de 2011

Coisas eternas...

Existem sensações que jamais passarão, coisas eternas...

"Imagino que, em uma linha constante de intensificação, a humanidade vem perdendo a apropriação das coisas eternas que estão latentes para serem vistas, sentidas, percebidas e emancipadas nas vias de nossas almas. Falo aqui de coisas eternas não pensando no mundo pós-morte, mas nas cenas simples que marcam o cotidiano, e que, em seu âmago, possuem elos indestrutíveis ao tempo ou espaço, por assim dizer, eternamente firmadas como fundamentos inabaláveis."
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Em meio às configurações e reconfigurações da humanidade, cada qual à sua própria temporalidade e realidade, vão se reorganizando os termos, as significações e, acima de tudo, os olhares que são lançados à vida em suas mais complexas, belas e trágicas manifestações. Em passos rumo ao desconhecido as existências se encontram no grande palco da materialidade que dá forma a tudo e, consequentemente, molda e movimenta o âmago do ser, trazendo sentidos e sentidos outros para o que e há e não há...
Tudo isso me leva a pensar em nosso presente, nossa sociedade do consumo e informação. Em suas relações somos diariamente atropelados pelos fatos e necessidades reais e muitas outras inventadas, tais como luxo, glamour e ostentação. Em essência, somos quase que forçados a abandonar a reflexão sobre nosso lugar na existência, as consequências de nossas atitudes e o trato em prol de nossos semelhantes para além de nossa satisfação pessoal e individual. A impressão que macula nossa imagem interior revela-se pelo ato de nos perdermos da profundidade do que nos cerca, nos deslocarmos da perspectiva do eterno em detrimento do simples imediatismo furtivo.
Imagino que, em uma linha constante de intensificação, a humanidade vem perdendo a apropriação das coisas eternas que estão latentes para serem vistas, sentidas, percebidas e emancipadas nas vias de nossas almas. Falo aqui de coisas eternas não pensando no mundo pós-morte, mas nas cenas simples que marcam o cotidiano, e que, em seu âmago, possuem elos indestrutíveis ao tempo ou espaço, por assim dizer, eternamente firmadas como fundamentos inabaláveis.
Esta eternidade que clama e me inspira se revela e flui dos momentos doces que há em meio às turbulências. E tão grandiosa é a tal que, havendo um desejo em nosso coração de tê-las como rotas para a felicidade, somos capazes de vislumbrá-las mesmo em meio à pobreza e frieza sentimental que assola o mundo. Basta um quê de sensibilidade para nos rendermos às coisas eternas e darmos à vida um sabor de para sempre, eternamente...
O que há de mais sagrado que um sorriso que desponta da dor? Insondáveis são os caminhos do amor que sentimos e recebemos, do perdão que dispomos, do calor dos olhares, das mãos que se ajudam. Mesmo insondáveis em sua constituição, já que não podem se medidos ou avaliados, tudo isso remete aos aprazíveis caminhos da terna e doce sensação do sentido da vida, do desejo de existir e fazê-lo com intensidade e beleza.
Se tenho dúvidas dos meus caminhos e sonhos, acabo encontrando as convicções justamente nos caminhos inabaláveis dos momentos que se transcenderam o tempo e espaço, os momentos de aconchego, arrependimento, alegria. Se sei que estou vivo pelo ato de respirar, sinto a essência da vida quando fito o fundo dos olhos, quando reconheço que errei, quando me sento à cadeira e sirvo um bom café aos meus amigos e amados debaixo de um teto ao qual chamo de lar.
O tempo passará, as coisas continuarão mudando e a vida seguirá seu curso, mas, ao fim, tenho a inabalável sensação de que jamais passará aquilo que me foi eterno, aquilo que rompeu e rompe meu indivíduo para a esplêndida perspectiva das coisas sagradas, das coisas eternas, as misteriosas centelhas de graça que emanam da doação em prol do outro, nos momentos quando tanto amei e um tanto mais fui amado. Coisas misteriosas, coisas que ninguém pode jamais me usurpar, coisas eternas...  


Escrito por Edward de A. Campanário Neto
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