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10 de mai. de 2011

Quem são estes?

Eu sem quem são estes que em suas costas levam o mundo e dele levam tão pouco...
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"Eu sei quem são estes miseráveis. Sei também que foram, são e serão heróis de seu tempo. São os trabalhadores que construíram e constroem o mundo, lavram a existência e edificam a história com blocos de seus corpos e concreto mexido de seu próprio suor. São são os que aram com as unhas e regam com seu sangue a grande seara da desigualdade ao longo da história."
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Quem são estes que se erguem junto da alvorada e se lançam à vida? De quem são estes olhos marcados pelo cansaço, pela dor , pela labuta e pelo desejo de viver? E estes seus corpos muitas vezes maltratados, suas mãos e mentes em frangalhos, que escondem uma essência que tão poucos são capazes de enxergar em meio ao nada ao que foram destinados pela mão fria, ingrata e vazia do poder?
Estas faces cansadas, estas mãos feridas, estas almas de ferro e fogo. Estes braços que embalam crianças famintas que de tudo têm falta, estes corpos sob a cangalha da corrupção que faz de sua vida, sua tão penosa vida, uma estrada de terra seca e escarpada.
Mas nesta estrada seguem em marcha. Carregam nas costas o peso do mundo, um mundo que nunca foi verdadeiramente seu. Ah, mãos trabalhadoras! Jamais apalparam como suas aquilo que nasceu de sua habilidade. Nunca adentrarão no palácio de vidro que constrói nas alturas. A vocês deixaram a baixeza às beiras do inferno.
E este lombo que semeia a fertilidade da terra? A ele deram tão somente os castigos do sol. Aos filhos do reis foram dados os frutos doces da tenra estação e, a ti e a teus próprios filhos, destinaram somente cardos, espinhos e ervas amargas para seus prantos noturnos que se enveredam na escuridão.
De que se veste a filha da rainha? Ora, com as finas rendas e bordados das calejadas mãos que bordam o passar dos dias, a solidão da vida e as canções chorosas de dias de alegria que nunca vieram e que talvez jamais virão. Enquanto isto, estes teus, frutos de seu amor, andam como farrapos, como almas que penam com os pés descalços no chão frio e sentem na pele esguálida o sopro da morte que espreita sentada com uma chícara de café morno em suas mãos ossudas. Fica na alma a marca de seu opaco e compenetrante olhar...
Eu sei quem são estes miseráveis. Sei também que foram, são e serão heróis de seu tempo. São os trabalhadores que construíram e constroem o mundo, lavram a existência e edificam a história com blocos de seus corpos e concreto mexido de seu próprio suor. São são os que aram com as unhas e regam com seu sangue a grande seara da desigualdade ao longo da história.
Eu sei sim quem são estes! Homens e mulheres que não viveram somente de choro e dor, mas também de luta e conquistas. Sim! São estes, estes mesmo, que me servem de inspiração para esta sombria e dolorosa sina, sina esta que clama para a grande e nobre alma dos trabalhadores de toda terra. Uma sina triste que anseia ardentemente pela rememoração das injustiças, exaltação das conquistas e destruição do grande Leviatã que oprime o mundo! Mundo tão desenvolvido ao custo do atraso, mundo enriquecido pelo soco no estômago da humanidade, que padece, padece e, tão somente, padece...  

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
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