Páginas

30 de jul. de 2011

A fragilidade das civilizações...



Ledo engano de pensarmos que nosso modelo de sociedade é sólido e inabalável

__________________________________________________________


"Imagino que impera um sentimento de superioridade e convicção nos rumos do mundo. Parece que todas as revoluções no mundo das ciências, somadas às mudanças tecnológicas e econômicas, trouxeram consigo um ranço imediatista para a mentalidade dos seres humanos: não há limites que não possam ser traspassados; não há barreiras ou cifras suficientes para satisfazerem os desejos cada vez mais megalomaníacos e compulsivos."

__________________________________________________________

A cada dia despontam dos noticiários novas e inúmeras descobertas científicas. O mercado lança um sem número de produtos de consumo para as massas. São novas marcas, variadas e cada vez mais incisivas campanhas de marketing e fronteiras sendo diluídas na grande aldeia global proporcionada pelos avanços constantes na redes de comunicação.
O tempo se esvai diante dos nossos olhos, imaginamos, de forma que temos a sensação de que alguma linha no espaço-tempo alterou de forma misteriosa o modo como ele discorre. Sentimos que pouco tempo nos resta e que tudo passa muito depressa para refletirmos e arrazoarmos nos momentos de tomadas de importantes decisões. Este, com certeza, é um dos grandes males da humanidade em tempo pós-modernos, tempos onde a inovação, a comunicação e a tecnologia tornaram-se a espinha dorsal da sociedade, atingida de diversas formas por seus impactos e consequências.
Imagino que impera um sentimento de superioridade e convicção nos rumos do mundo. Parece que todas as revoluções no mundo das ciências, somadas às mudanças tecnológicas e econômicas, trouxeram consigo um ranço imediatista para a mentalidade dos seres humanos: não há limites que não possam ser traspassados; não há barreiras ou cifras suficientes para satisfazerem os desejos cada vez mais megalomaníacos e compulsivos.
Como um tanto de outras civilizações de outros tempos, que tiveram seus momentos de glória e supremacia em sua cultura ou modo de vida, a civilização de nossos dias contempla-se a caminho do desenvolvimento pleno. Olha para is mesma numa ilusão distorcida de sua supremacia, encantada com suas próprias virtudes e caminhos.
Mas nesta questão habita uma grande controvérsia, ou, se preferirem, um “porém” que se interpõe diante das palavras de contemplação da mentalidade da atual conjuntura mundial.
Sequer imaginamos a fragilidade da cultura da atualidade. Não percebemos o quanto são instáveis e duvidosos os alicerces que sustentam a economia, os sistemas de governo, a produção, o conhecimento e as relações humanas.
Basta olhar para as ruínas de civilizações que ficaram esquecidas e desconhecidas na história por séculos, sendo somente compreendidas e reveladas à humanidade após muitos anos de estudo e reconstrução, já que só restaram delas fragmentos enterrados nas areias de desertos e em cidades abandonadas, esquecidas, demolidas pelas consequências da fabilidade humana.
Qualquer um diria ser absurdo a retórica da fragilidade de nossa civilização, mas o que são os últimos três poucos séculos de gênese e expansão de democracias modernas e economias de mercado diante dos milênios e muitos séculos de cultura egípcia, assíria ou babilônica?
Seria loucura pensar em São Paulo, Nova Iorque e Londres abandonadas em ruínas, porém, se nos atentarmos à Heliópolis, Babilônia e Nínive, em seus tempos de glória também era inimaginável que sucumbiriam ao colapso.
  Por mais que avencemos em milhares de áreas através do conhecimento e comunicação, seremos sempre vítimas de crises econômicas, sociais e políticas. A motivação para o risco perene de tal proximidade do abismo se revelará no atraso humano motivado pela religião cega e vazia, pelos apelos e arranjos egoístas, pela corrupção dos governos e sistemas...
Por fim, no âmago de cada ser humano se trava e se travará o rumo da sociedade como um todo, sendo que, de forma bastante clara, temos perdido sucessivas e importantes batalhas.
Basta escolhermos se continuaremos a nos permitir viver existências imediatas e pautadas no prazer ilimitado e inquestionável. Precisaremos esquecer a louca busca por respostas e iniciamos a jornada em prol de perguntas e questionamentos capazes de nos soltarem das amarras do automatismo comportamental, que nos priva da reflexão.
A humanidade carece urgentemente de preencher seu vazio para além do consumo e do poder, indo em busca de uma nova e plena etapa de desenvolvimento, de caminhos outros, caminhos que apontem para a humanidade que, ainda reprimida e esquecida, habita em nós. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
__________________________________________________________


Nenhum comentário: