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6 de abr. de 2011

E passam as estações...

Os ciclos que vão e vêm revelam a doçura e os mistérios da vida


"Quando me levanto e respiro o ar frio que emana da noite e fito o sol radiante que gera o doce contraste deste meu Outono em tom de marrom poético e sábio, fecho os olhos e, só assim, com esta minha mente atribulada pelas mazelas do cotidiano, consigo compreender os sentidos e a harmoniosa orquestra da ordem universal que se mantém estabelecida desde o início dos inícios."
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Sempre me encanto com o poder do tempo em meio ao espaço. À medida que ele discorre, sibilam mudanças tão fantásticas em meio a tudo na existência, revelando ciclos que impressionam os olhos e vivificam a alma. Tais ciclos apontam para o curso que segue a vida em seus momentos, ora de prazer, ora de provação e batalha pelo simples e tão complexo de ser.
E em meio às percepções deste tempo que passa e que marca meu mundo e minha jornada, me rendo à beleza dos aromas e sabores, da distinção que há em cada ciclo que começa, se consolida e tem um fim para, posteriormente, alcançar um belo recomeço. É verdadeiramente encantadora a perspectiva de uma existência viva e pulsante que vai muito além de meu próprio ser, que se comunica e se revela em uma grandeza e pequenês que está acima de meus desejos e ideais. Ela aponta caminhos para uma consciência reflexiva que se rende à harmonia para qual foi criado o universo e cada ser que por aqui tem seus caminhos.
Assim me encanto com estes ventos de Março, que me trazem o Outono das folhas secas e do silêncio frio da bruma que costuma cobrir os céus como um véu de majestade e beleza. Eles me sussurram sobre os valores e mistérios que sustentam a vida, falam-me em versos sobre as proezas da Criação e minha fragilidade diante dela, já que sou tão pequeno como uma das folhas que voam soltas das árvores, agora nuas em seus galhos e formas.
Quando me levanto e respiro o ar frio que emana da noite e fito o sol radiante que gera o doce contraste deste meu Outono em tom de marrom poético e sábio, fecho os olhos e, só assim, com esta minha mente atribulada pelas mazelas do cotidiano, consigo compreender os sentidos e a harmoniosa orquestra da ordem universal que se mantém estabelecida desde o início dos inícios.
É sentindo o sabor do ventos frios e o calor do sol que aquece que percebo meu lugar em meio ao Tudo. Sou muito menos do que deveria ser e muito mais do que acredito, pois, ao fundo, acabamos por ser a materialização da fraqueza, ainda que pensemos ser suficientes. 
E, verdadeiramente, não somos auto-suficientes. Isso se faz latente quando fito o Tudo e o nada, quando fito este vento que me toca e me acalenta, que me acaricia e sussurra que não estou sozinho na esfera da vida, que pertenço aos outros e que sou também responsável pela felicidade de cada um de meus semelhantes. Por fim, me revela de que não sou dono de minha vida, mas que ela também pertence ao propósito fundante do universo: o amor.
Passam as estações e aquilo que as estabeleceu permanece eternamente, imutável, misterioso. E, ainda que em constante mudança, permaneço também eu, buscando o sentido e tecendo reflexões sobre a minha jornada. Sigo, então, as pistas do vento, que ninguém sabe de onde veio ou para onde vai, mas que, ao fim, revela a fonte de todas as coisas, trazendo-me um resquício do som da eternidade...

Escrito por Edward de A. Campanário Neto 
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