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26 de dez. de 2010

Destino e escolhas


O destino se veste de verdade mas, em sua essência, é desmascarado pelas escolhas...

"E pensando sobre o modo como a vida segue seu curso diante do tudo e nada, acabo por cair nos dilemas de minha alma, dilemas que compõem nossa natureza limitada, a busca por respostas que correspondam aos nossos próprios padrões equivocados de entendimento: início e fim; causa e efeito; ação e reação; transgressão e compensação; tempo e espaço... Por fim, a amálgama de todas estas conceituações e dilemas culmina em uma resposta que revela-se tão permeada de completude: destino. Mas até onde este termo e seus sentidos são capazes de trazer explicações? Que explicações eles nos trazem, realmente? Bem... considerar o destino como resposta para vida pode até ser momentaneamente confortante, mas vejo esta palavra como sinônimo de imediatismo, ainda que clame por supostas existências remotas e intermináveis ciclos de ir e vir. Sinto o sentido de destino afogado em uma profunda consonância com o mais absoluto de conformismo, justificativa injustificável para as dúvidas e momentos em que temos que parar e arrozoar sobre nossa vida."

Costumo sempre pensar no modo com as coisas acontecem, buscando entendimento, crescimento e compreensão. Creio que cada acontecimento tem em si e fora de si aprendizados permeados das questões que encontram-se em esferas superiores de nossa simples existência física, clamando para lançarmos olhares para nosso lugar no mundo, os caminhos trilhados, o início dos mesmos e o fim que a todos está reservado, sendo que este mesmo fim tem em si uma essência de recomeço.
E pensando sobre o modo como a vida segue seu curso diante do tudo e nada, acabo por cair nos dilemas de minha alma, dilemas que compõem nossa natureza limitada, a busca por respostas que correspondam aos nossos próprios padrões equivocados de entendimento: início e fim; causa e efeito; ação e reação; transgressão e compensação; tempo e espaço... Por fim, a amálgama de todas estas conceituações e dilemas culmina em uma resposta que revela-se tão permeada de completude: destino. Mas até onde este termo e seus sentidos são capazes de trazer explicações? Que explicações eles nos trazem, realmente? Bem... considerar o destino como resposta para vida pode até ser momentaneamente confortante, mas vejo esta palavra como sinônimo de imediatismo, ainda que clame por supostas existências remotas e intermináveis ciclos de ir e vir. Sinto o sentido de destino afogado em uma profunda consonância com o mais absoluto de conformismo, justificativa injustificável para as dúvidas e momentos em que temos que parar e arrozoar sobre nossa vida. Por isso, mesmo em minhas limitações, não me permito de forma alguma crer em Maktub, acreditar que algo já estava escrito para ser cumprido como desígnio inevitável de um ser elevado, um ciclo de reexistência ou pelas configurações de leis universais.
Destino geralmente é posto em evidência como resposta que esmigalha a reflexão verdadeira do ser. Assim como um ponto final encerra uma frase, a aceitação do destino, do Maktub, nega a continuidade de processos tão necessários para se aprender com a vida. O destino dissipa interrogações, vírgulas e reticências nas páginas da existência. De forma absoluta e cega este conceito traz um conforto entrevado para os vícios, para a pobreza, para a riqueza, para as doenças, para a morte, para o sofrimento... Ao invés de se olhar a vida pelo viés da própria vida, o destino se apresenta como algo amigável, nos dando tapas nas costas e dizendo que era para acontecer, que era inevitável, que já estava assim definido, que não podia ser mudado.
E aí eu sempre me pergunto: E as escolhas? Como podem coexistir destino e escolhas? Na verdade, eles não coexistem, pois um naturalmente anula e aniquila o outro de forma bastante óbvia. Se tudo já estive traçado e pré-determinado, seria inevitável; sendo inevitável não poderia ser mudado; não podendo ser mudado, não haveria escolhas; não havendo escolha não há livre-arbítrio e, por fim, sem o arbítrio sobre nosso domínio, não seríamos nós mesmos, seríamos somente marionetes em um jogo controlado por um ser cruel. E que sentido há nisto? Na verdade, não há!
Certa vez, conversando sobre destino, fitando os olhos da pessoa amada, ergui um argumento que carrego comigo há anos, adquirido de um devaneio sarcástico de um amigo no terceiro ano do ensino médio. Um adolescente que muitos achavam imaturo por demais veio com a seguinte tese sobre o amor: "Se existissem pessoas feitas umas para as outras como almas-gêmeas e uma delas escolhesse a pessoa errada, ela deixaria sua pessoa ideal e estaria com outra pessoa, que por sua vez, também deixaria sua pessoa ideal. A primeira pessoa, se não quisesse ficar sozinha, escolheria uma outra pessoa que não era seu par ideal, fazendo com que a pessoa escolhida também deixasse seu ideal. E assim vai acontecer com uma pessoa, que vai escolher outra pessoa, que vai escolher outra pessoa... e nunca mais vai parar. Aquele que primeiro escolheu a pessoa que não era para escolher fez com todas as pessoas do mundo escolhessem as pessoas erradas."
Esses argumentos, ainda que tenham sido considerados besteiras por muitos na rotina de nossa sala de aula, dão apontamentos que refutam o destino pelo viés das escolhas. E isso se eleva para todas as outras partes da vida. Se existem caminhos tracejados não há como haver escolhas. Se há escolhas não há possibilidades de caminhos pré-concebidos, pois as escolhas ocorrem o tempo todo. Até mesmo não pensando em decidir ou escolher nós o fazemos. Quando escolhemos acontece o mesmo quando jogamos pedras no mar: criam-se ondas que se estenderão infinitamente pelas águas, criando ondas outras e alcançando proporções visíveis e invisíveis, influenciando inclusive no ato de escolha de outras pessoas em lançarem ou não outras pedras no mar. Não estamos sozinhos no mundo, somos uma rede de escolhas que nos leva a decidir e que leva os outros ao mesmo, criando um círculo interminável, não de acontecimentos já escritos, mas de escolhas que geram escolhas e que, por fim, nos fazem ser o que somos.
As escolhas são a máxima da vida, elas que desencadeiam as infinitas configurações que compõem todas as vertentes da existência. Elas ecoam por entre os ventos, ondas e marés que movem os barcos no oceano onde todos estão à deriva. E o interessante de tudo isto é que ainda que haja os ventos e marés, nós poderemos seguir o rumo oposto a todos eles remando, erguendo velas ou simplesmente lançando uma âncora e parando para olhar para o céu.
Mas preferimos ceder a um conceito vazio a medirmos nossas escolhas. Realmente é muito mais fácil olhar à nossa volta e aceitar a letargia de tudo do que pesar valores, ver onde erramos, ver onde erraram conosco e tomarmos novas decisões. E assim culpamos o vento, as ondas, culpamos e aceitamos o destino. E a vida se torna vazia, um fardo de um sentido determinado por uma lógica que não tem qualquer lógica ou razão de ser...
Por isso eu me esforço a crer em escolhas, ver a vida sob o foco daquilo que eu escolho mediante o que me é apresentado por escolher, dadas as escolhas de outros à minha volta. Penso que eu mesmo sou autor da minha história e de todas as significações que ela alcança ou pode alcançar. Posso optar por escrever um romance, um drama, uma aventura, contos macabros... ou até mesmo um pouco de tudo isso com um sentido de felicidade.
E tudo isso me leva a crer que nada é definitivo. As escolhas sempre mudam o rumo das coisas, de tudo. E Deus neste contexto é o Ser que a todo tempo nos delega escolhas que conduzem à felicidade e à paz. Ele mos apresenta o bem e o mal e, da mesma forma que o pai que brinca com criança e lhe estende as mãos fechadas para que ela escolha a mão onde guardou um doce ou uma bala e lhe dá uma mostra de onde ela se encontra, Ele sempre nos induz a escolher o bem. Aí pode surgir a dúvida: e quando escolhemos a mão errada? Ora, o pai simplesmente revela onde estava a bala e, interminavelmente, incansavelmente, estende novamente as mãos até que acertemos, encontremos o doce e nos realizemos.
Assim também age Deus. Ele nos diz amavelmente para escolhermos o bem e, ainda que por nossas limitações e fraquezas escolhemos o mal, Ele estende as mãos e traz novas e novas escolhas... intermináveis caminhos para alcançarmos a felicidade e a plenitude em nosso espírito. Só assim creio em destino. A única coisa a que estamos destinados é a plenitude diante de nosso Criador, o amor infinitamente precioso deste Ser para conosco desde o princípio até o fim de tudo, até a consumação da eternidade, onde não haverá nem tempo nem espaço, mas somente o Amor que a tudo trouxe à existência...

"Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, o bem e o mal; escolhe, pois, o bem, para que vivas (...)"
Dt. 30.19

Escrito por Edward de A. Campanário Neto, sob a inspiração de uma conversa de beira de calçada 

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa reflexão!Mas recentemente tenho me perguntado, de onde vem as escolhas? O que nos faz escolher isto ou aquilo? Nem sempre há o livre arbítrio. Quase sempre tomamos decisões precipitadas ou manipuladas por isto ou aquilo... Fico pensando... Como tomar decisões por si mesmo neste mundo? Não sei. E estou revendo alguns pontos de vista. Continuo acreditando naquele destino que eu lhe falei, a rota possível de traçar e provável de chegar. O restante realmente pertence a Deus. Quando Ele me escolhe aí sim, sinto o mundo girar... Siga sonhando Edward! Que isto é o que nos faz brilhar em meio a cinza dos tempos!!