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17 de fev. de 2011

E há um mundo em nosso ser...

Vasculhando o mundo que há em nosso ser encontramos o sentido da vida

"Indo além da desigualdade em sua fundamentação, fica evidente que o sofrimento e a visão turva de um mundo estranho movem nosso interior, mas, pensando na essência humana, podemos dizer que há também um mundo dentro de nós. A complexidade e a profundidade de nossa estrutura e configuração diante da existência nos proporcionam a constituição de um mundo imaterial, porém real, onde se mantêm imersos e firmados nossos sonhos, medos, desejos e demais faculdades humanas. 
Este mundo do ser é ao mesmo tempo uno e coletivo, silencioso e barulhento, iluminado ou escuro, sendo que as proporções de cada um destes detalhes e características são definidas pela autonomia do ser diante de sua jornada. A configuração e ordem desta realidade única a cada um será sempre a consequência do modo como se enxerga a vida, como se lança olhares ao mundo externo e, por fim, ligada fortemente ao elo de relação com o este externo mediante àquilo que é permitido entrar e mexer com as estruturas do ser." 
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O mundo que nos envolve é muito dual. Em todo tempo e sob variadas circunstâncias oscilamos de realidades que perpassam a beleza e o horror, de forma que acaba sendo confuso atribuir significados e buscar os caminhos aprazíveis de uma existência permeada de um sentido pleno e satisfatório. E assim o é com todos nós, sendo que há alguns que estão muito mais propícios a conviverem diante das mazelas e piores misérias da humanidade, mas isto é outra questão, que envolve a desigualdade social histórica e as peripécias de um sistema de mercado que está há séculos em construção. 
Indo além da desigualdade em sua fundamentação, fica evidente que o sofrimento e a visão turva de um mundo estranho movem nosso interior, mas, pensando na essência humana, podemos dizer que há também um mundo dentro de nós. A complexidade e a profundidade de nossa estrutura e configuração diante da existência nos proporcionam a constituição de um mundo imaterial, porém real, onde se mantêm imersos e firmados nossos sonhos, medos, desejos e demais faculdades humanas. 
Este mundo do ser é ao mesmo tempo uno e coletivo, silencioso e barulhento, iluminado ou escuro, sendo que as proporções de cada um destes detalhes e características são definidas pela autonomia do ser diante de sua jornada. A configuração e ordem desta realidade única a cada um será sempre a consequência do modo como se enxerga a vida, como se lança olhares ao mundo externo e, por fim, ligada fortemente ao elo de relação com o este externo mediante àquilo que é permitido entrar e mexer com as estruturas do ser. 
Sendo assim, podemos então viver e contemplar uma existência muito diferenciada daquela que se apresenta à nossa frente, todos os dias. Organizando o mundo que há dentro de cada um de nós podemos alcançar um equilíbrio diante das problemáticas e dilemas, melhorando de forma significativa os passos que nos levam a trilhar a jornada da vida e dotando nossos sonhos e desejos da real plenitude que há no Tudo: simplicidade, doação, perdão e, por fim, a compreensão. 
Olhando para nós mesmos em uma perspectiva existencial que clame para a autoria de nossas vidas dentro de um propósito que nos é superior, apreendemos as rotas do ato de ser. Creio que as saídas da vida dão-se somente através da entrada, na procura do caminho que nos una ao propósito e significado que aqui nos trouxe, já que não auto-existimos. E imagino que este propósito está justamente na constituição de nosso mundo em uma plena relação com uma negação declarada de nosso ego. 
A princípio, pode transparecer que a organização do mundo que está dentro de nosso ser sob tais parâmetros é anulação e sofrimento, mas, pensando em essência, quando abrimos mão de nossas razões individuais e egoístas em prol de nossos semelhantes nos ocorre uma grande transformação. A negação do ego revela-se, então, uma rota clara para a felicidade, mas não fácil ou inicialmente convidativa. 
E pensando sobre este nosso mundo interno e suas relações e regulações mediante a realidade, sou conduzido às sábias palavras de Jesus. Com muita propriedade e lançando olhares de eternidade sobre o cotidiano da vida de seus ouvintes, ele evidenciou o princípio da renúncia do ego como caminho para a verdadeira significação da existência: “Quem achar a sua vida perdê-la-á;” (Mt. 10:39) Aqui, sua explanação apontava justamente para a proposta de satisfação individual e conceito de felicidade pautado somente na realização pessoal, questionando-a em meio à distância de uma relação com o Criador e doação aos semelhantes. 
Infelizmente, tomando uma reflexão oposta à noção da doação e renúncia, cremos na organização de nosso mundo tendo como ditame o prazer, as coisas agradáveis e descartando tudo que se estenda para além de nossos próprios interesses. Sendo assim, crendo que estamos realizando nossos desejos, mas, na verdade, nos transformamos em vítimas de nossa limitada compreensão dos sentidos e caminhos. Lançamos nosso mundo em um isolamento que, cedo ou tarde, nos revelará seu preço alto e doloroso. Por fim, insisto dizer que é fantástica a constatação de um mundo onde nos encontramos e temos reais possibilidades de encontros com nossa própria essência e com a grande essência que sustenta a vida. Por isso quero vasculhar este meu mundo em busca do propósito de doação para que fui criado e, de forma poética, encontrar meu sentido para além de minhas próprias razões e desejos mesquinhos. Quero perder meu mundo para então poder encontrá-lo.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
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