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2 de fev. de 2011

Eu acredito em milagres


Você acredita em milagres?

"Os milagres estão diante de nossos olhos, acontecem o tempo todo, de formas simples ou complexas. Por fim, o que define sua relevância é o modo como nossas escolhas se lançam ao reagir em meio ao mundo à nossa volta. 
(...) Falando em milagres eu me lembro de minhas caminhadas de fim de tarde, momentos que me ausento da rotina e clausura de minha casa para contemplar as belezas do lusco fusco, o grande milagre do por do sol, que se repete de forma graciosa e majestosamente todos os dias."
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Em meio à minha caminhada pelos rumos de minha existência sempre me vejo indagado e indignado com as preocupações que marcam nossos dias. Por todo lado que se olha vê-se claramente a dor e ouvem-se os gemidos de uma humanidade que agoniza em meio aos seus dilemas e paradoxos tão profundos.
O modo como a sociedade se comporta hoje é verdadeiramente estranho, um marasmo onde se confundem os significados de todos os sentidos. Isto se manifesta de forma gritante no modo como se dão as relações com a significação da existência, que se constitui nos extremos da banalidade ou de uma valorização desmedida... 
E assim padece o mundo, padece a vida. O que resta é somente o burburinho de um planeta marcado por pessoas que vagam ao vazio de banalizarem a existência ou lhe darem uma aura dotada de um falso brilho, inalcançável, distante. Aí se revela a causa de tanta violência, sofrimento, desigualdade, traições, homicídios... tudo ligado aos exageros que nos amarram e nos impedem de ver a vida de forma mais simples e pragmática, além de nossos muitos conceitos torcidos e, por fim, nos castram a liberdade de alcançar o estado intenso e gracioso de estarmos vivos. 
E pensando sobre isso eu imagino o quanto ainda temos que aprender em relação à vida. Confesso que a palavra que fala mais alto em meu coração neste momento é milagre. Creio que precisamos urgentemente nos ater a milagres para transformarmos o ritmo desvairado e desenfreado da perversidade e frieza que nos levam ao triste fim da depressão e contração existencial que marcam a humanidade em proporções inimagináveis. 
Mas como falar em milagres se os conceitos estão perdidos? Como em outras esferas, também fomos capazes de lançar o conceito de milagre em nossos complexos de exacerbação. Meu Deus! Como isso é grave! 
A esta altura você deve estar se perguntando onde estão os milagres... Afinal, o que são os milagres? São dádivas alcançadas mediante sacrifícios extremos? Dons exclusivos concedidos a uma parte ínfima das pessoas? Milagres existem? Se realmente existem, como alcançá-los? 
Eu acredito em milagres, mas minhas conceituações sobre os mesmos vão muito além daquele dualismo entre banal e inalcançável. Penso em milagres como algo pulsante e vivo, atos da manifestação do Criador em sua beleza e demais atributos plenos em meio ao natural e sobrenatural, entre o visível e o invisível, entre o possível e o impossível... 
Assim como somos capazes de nos expressarmos pela escrita, imagino que os milagres sejam a escrita de Deus. São sua marca diante daquilo que criou, o zelo que mantém a ordem em meio à voluptuosidade de todo o cosmos universal e do micro-cosmos que há dentro de nossos corações. 
Os milagres estão diante de nossos olhos, acontecem o tempo todo, de formas simples ou complexas. Por fim, o que define sua relevância é o modo como nossas escolhas se lançam ao reagir em meio ao mundo à nossa volta. 
Minha intenção não é diluir o conceito de milagre e sua grandeza, mas sim trazer à tona sua essência vivificadora da existência que nos impele a ver e sentir a vida de uma forma real, condizente ao propósito para qual fomos criados. 
A vida em si é um grande milagre. Somos únicos em todos os sentidos que nossa mente pode alcançar. Nunca houve nem jamais haverá em toda terra um ser que seja nos igual em essência. 
E o que dizer da grandeza dos céus, da graciosidade do vento, da beleza imensurável das flores? São capazes de dar sentido às nossas vidas e nos aproximarem de Deus. São milagres! A questão é que a distância e a distração pelo mundo de neon e glamour nos impedem de vê-los assim. 
O amor é também um milagre grandioso. O amor que surge dos laços de afeto entre familiares, amigos. Lembrando que o modo como se manifesta o amor em um relacionamento homem-mulher é algo fascinante: na infinidade de personalidades e seres únicos há o momento em que você se depara com alguém que move suas estruturas de uma forma tão profunda e especial, dando novos sentidos aos seus sentidos, compartilhando a existência em um projeto marcado de uma cumplicidade que excede a razão. 
Mas lembro que existem os milagres do coração, o resgate de belos sentimentos, o abandono de vícios e traumas, a superação de medos e, por fim, o estado de graça que alcançamos ao amar, em todas as direções, rompendo as arestas que compõem aquilo que há em dissonância com a imagem e semelhança de Deus. 
Indo além desta percepção, existem mistérios e obras inexplicáveis que permeiam áreas não alcançadas pela limitação da humanidade. Sim, milagres surgem também nos momentos mais difíceis, desesperadores, em situações onde as fronteiras do impossível e natural são transpassadas, deixando somente o deslumbre em meio à transformação do que se demonstrava irreversível. 
Eu acredito em milagres! Milagres que se estendem desde a manifestação da criação e momentos de abstração diante de Deus aos feitos que não sou capaz de compreender, como doenças incuráveis que se esvanecem diante da fé, livramentos de tragédias e séries de eventos que culminam em desfechos inesperados... 
Falando em milagres eu me lembro de minhas caminhadas de fim de tarde, momentos que me ausento da rotina e clausura de minha casa para contemplar as belezas do lusco fusco, o grande milagre do por do sol, que se repete de forma graciosa e majestosamente todos os dias. 
Lembro de meus passos firmes e tranquilos ao chão, e, quando estou acompanhado de minha sobrinha de dois anos de idade, de seus passos curtos e vacilantes, mas, por fim, passos muito mais interessantes que os meus... 
E num dias destes, enquanto andávamos, eu lhe apontei o céu. Ela, fitando e sorrindo, perguntou quem o havia feito. A resposta: “Foi Deus quem fez, meu bem!” Para minha surpresa, ela ergueu ainda mais a cabeça e, sorrindo profundamente, disse que estava vendo Deus. 
Maravilhado diante do que presenciei, comecei a perguntar como era Deus, se era bonito, qual era sua cor, se era grande ou pequeno... Ela então, na manifestação plena da inocência que Jesus citou como a mais próxima do reino dos céus, sorriu e me disse: “Deus é grande, tio. Ele é muito grande!” 
Com lágrimas nos olhos, mais do que nunca eu percebi que a vida era cheia de milagres, cheia da essência daquilo que trouxe à existência o Tudo e o controla em meio ao nada, como uma bela orquestra do impossível que se estende para toda a eternidade... 
E assim eu quero levar meus dias e minha vida. Anseio em viver em consonância com os milagres que me reservam a vida. Eu acredito em milagres! Sim, eu vivo em prol do grande milagre da existência! Milagres que eu tanto preciso alcançar para ser pleno, milagres que libertarão a humanidade das algemas que a prendem. Afinal, milagres nunca deixarão de ser milagres, mesmo que não sejamos capazes de enxergar... 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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