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5 de fev. de 2011

A fé das novas gerações

Uma fé estranha e destruidora impera sobre nossas crianças e jovens. Assim a humanidade ruma a passos largos para o abismo.

"E fitando este passado de meninos sonhadores e ávidos por um mundo onde as pessoas se amassem mais e vivessem de forma prazerosa, lanço suspiros diante do quadro em que se encontra a fé de nossas crianças e jovens de hoje. Penso que a fé que nos movia e nos lançava a olhar para a vida não é sequer similar ao emaranhado de reações cinzentas que povoam e imperam incisivas sobre as mentes cheias do nada e vazias do tudo tão essencial.
Nossas crianças e jovens sofrem de uma morte existencial. Parece que o único sentido e avidez com que se projetam ao mundo é pelo caleidoscópio da busca do luxo, prazer ou realização de seus ideais individualistas."
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Conversando com um amigo sobre o os rumos da humanidade, minha mente adentrou em um processo de reflexão interna que ultrapassou o mundo daquelas palavras de beira de fogão. Mudamos de assunto, retornei para minha casa, mas, mesmo assim, a questão ficou marcada em minha alma.
O pensamento insistente sobre a questão ergueu-se e manteve-se altivo e desafiador: os rumos da humanidade, a fé das novas gerações. Para onde nos conduzirão os jovens da atualidade? Como vislumbrar um futuro melhor mediante à nova configuração comportamental de nossas crianças e adolescentes? São arguições que envolvem um sem número de perspectivas e caminhos, se revelando tão necessárias, diria vitais, para pensar a existência.
Sou suspeito a falar da fé que move os jovens e crianças de hoje. Digo isto por ter vivido experiências tão interessantes em tempo e locais marcados pelo ato de se pensar. Éramos crianças como quaisquer outras, crianças que corriam, subiam em árvores, assistiam TV, jogavam vídeo game, mas, acima de tudo, éramos movidos por um sentimento comum de mudar o mundo através de pequenas atitudes e sonhos. Talvez isso tenha sido assim pelo fato de vivermos no interior, em um lugar quieto, mas digo que foi uma vivência bastante intensa diante das apostas no amanhã pelo presente estranho que emana de nossas gerações mais novas. 
Em minha realidade sempre fora comum estar em praças e calçadas em debates acalorados sobre defesa ou ataque a princípios ou soluções para o problema da comunidade. Nada nos escapava em meio às reflexões - ainda que isso se desse em meio às limitações de nossa idade e conhecimento. Dali tínhamos as soluções e projetos que perpassavam as mazelas de nosso bairro à solução da pobreza no país. É claro que dali saíam, às vezes, as propostas mais absurdas, mas eram as nossas propostas, o nosso modo de flertar com a vida e as relações que compunham a construção do conhecimento do mundo que nos cercava.
E fitando este passado de meninos sonhadores e ávidos por um mundo onde as pessoas se amassem mais e vivessem de forma prazerosa, lanço suspiros diante do quadro em que se encontra a fé de nossas crianças e jovens de hoje. Penso que a fé que nos movia e nos lançava a olhar para a vida não é sequer similar ao emaranhado de reações cinzentas que povoam e imperam incisivas sobre as mentes cheias do nada e vazias do tudo tão essencial.
Nossas crianças e jovens sofrem de uma morte existencial. Parece que o único sentido e avidez com que se projetam ao mundo é pelo caleidoscópio da busca do luxo, prazer ou realização de seus ideais individualistas. Nesta almálgama o conceito de coletividade se desvaneceu, pois os grupos existentes, aquelas "patotas", são somente uma vazão à aceitação e status mediante conceitos também vazios de sentido. Perdeu-se o fundamento da integridade, do compromisso com a sociedade e com a valorização da melhoria de vida alcançada nos últimos anos.
Nunca desde o princípio da humanidade houve tanto acesso à informação, mas daí ergue-se o dilema de que também nunca antes houve pessoas tão vazias quanto ao pensamento sobre a vida, seu lugar na existência e seu sentido como seres com responsabilidades sobre seus atos. A rede mundial de computadores seduziu nossos jovens e crianças com um elixir estranho que termina no nada existencial. O novo mundo virtual para os tais, quando não é mundo de fantasias onde se criam fakes de seus heróis absurdos, manifesta-se como uma vitrine de suas manias e modo de vida fútil.
Vale lembrar que nossas crianças já não são crianças, são seres adultizados e consumistas ávidos pelo querer e querer um pouco mais. Taxam os valores e a simplicidade como coisas ultrapassadas e inúteis, ignoram os conceitos reais que não permitiram que o mundo afundasse definitivamente em um abismo de barbárie pior que este já se encontra e, por fim, são prolixos em tentar nos convencer que as coisas mudaram e que sua realidade e seus sonhos é que valem a pena.
Diante de um quadro tão lastimável e desolador, nestas horas eu me apego à mesma fé de menino que se manifestava à beira das calçadas. Penso que por mais difícil que seja alimentar a crença em um mundo melhor e uma realidade mais próxima da proposta do Criador, não há razões para perder as esperanças. Tenho comigo que se o remanescente que não se seduziu pelo encanto das nações se calar, verdadeiramente tudo estará perdido. 
Aos trancos e barrancos da existência os sonhadores são como luzes em meio às trevas. Se eles permitirem que esta fé estranha que move e comove as novas gerações ao abismo do colapso total torne-se inquestionável, haverá muito mais dor, angústia e sofrimento em um mundo que já nos é tão lastimável.   
Sou do tempo em que os avós falavam coisas sábias e as crianças os ouviam. Nunca me esquecerei do que sempre dizia meu avô: "Tudo é uma questão de fé." Qual é a sua fé?      

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
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Um comentário:

Edward de A. Campanário Neto disse...

Fui acusado de generalizações, mas insisto que as gerações mais recentes estão, sim, afogadas em extremos.
Dentro da academia de educação esta percepção é parte dos principais dilemas de professores e demais educadores.
Esta realidade vai muito além de especulações.