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24 de fev. de 2011

Quando terminar minha jornada...

Sei que minha jornada nesta existência terá seu fim, mas um fim com essência de recomeço...
"Não quero jamais ser refém ou inocente quanto ao pensamento de que tenho data marcada para seguir meu curso para um propósito maior do que eu mesmo possa entender. Creio que não há como fugir a tal regra e, me entregando a ela e vislumbrando-a como mais uma etapa a ser traspassada, sinto o alívio em meio ao inesperado e o doce sabor do hoje mediante aos dias que me conduzirão ao fim.
(...)Portanto, quando terminar minha jornada, desejo ser contado entre os que tiveram fé em meio ao desespero, entre os que persistiram para que a existência fosse mais bela e mais pulsante. Anseio ardentemente por estar entre os que amaram quando não havia razão, que perdoaram sem pedidos de desculpas, que doaram seu tempo, sua alegria, seus talentos, sua força e sua esperança."
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Assim como tudo tem um começo, há também um fim. Creio que o único ser que rompe esta lógica é aquele que trouxe à existência o tempo, a matéria e o espaço. E, refletindo sobre isso, penso em minha jornada como indivíduo em meio à Criação, vislumbro que para mim também haverá um fim, o fim de minha jornada e, acredito eu, um fim com sabor de recomeço.
Não quero jamais ser refém ou inocente quanto ao pensamento de que tenho data marcada para seguir meu curso para um propósito maior do que eu mesmo possa entender. Creio que não há como fugir a tal regra e, me entregando a ela e vislumbrando-a como mais uma etapa a ser traspassada, sinto o alívio em meio ao inesperado e o doce sabor do hoje mediante aos dias que me conduzirão ao fim.
Tendo a consciência clara deste fim, do final de minha jornada nesta mínima e confusa parte da existência, vejo-me então diante do deleite e paz de contemplar aquilo que me aguarda. Para muitos isto pode até parecer loucura, mas considero ser necessário sonhar com frutos para se saber a semente que se deva plantar. Assim, fitando o momento em que tomarei do expresso da alvorada para o grande mistério do início e fim de todas as coisas, me vejo a caminhar lançando minhas reservas e valores para que surjam frutos, sentidos e significados em consonância com o propósito real de tal partida.
Portanto, quando terminar minha jornada, desejo ser contado entre os que tiveram fé em meio ao desespero, entre os que persistiram para que a existência fosse mais bela e mais pulsante. Anseio ardentemente por estar entre os que amaram quando não havia razão, que perdoaram sem pedidos de desculpas, que doaram seu tempo, sua alegria, seus talentos, sua força e sua esperança.
Imagino que almejar tais coisas e buscar sua concretização é o que me dá ânimo para não crer na vida como um vazio de um começo duvidoso e um fim que termina de forma cinzenta pela entrega ao nada. Essa é a força vestida de esperança que me move todas as manhãs a estar de pé e tolerar as injustiças da humanidade, sua desigualdade e sua cobiça. Procuro, ainda que com todas as minhas infinitas limitações e defeitos, vislumbrar o cotidiano com o tom da eternidade, o tom de que há um sentido infinitamente maior que minhas necessidades, minhas dores, meu sofrimento e minhas mazelas que, chegando o fim de minha jornada, sei que vão passar.
Partindo de tais fundamentos, sou conduzido também a lançar minhas impressões sobre o terminar de minha jornada. Tenho a sensação de que nunca saberei ao certo como tudo se dará. Jamais alcançarei a compreensão em meio ao fim sobre meu corpo, minha mente, o espaço ou os sentidos, mas, em minha essência, tenho algo instintivo que clama para a certeza de que no momento do fim permeado de começo todas as coisas se farão compreendidas e reveladas.
E nesta compreensão penso que chegarei a um estado de espírito que traga a sensação de que havia partido de uma grande viagem e cheguei ao meu verdadeiro lar, meu país, junto de meu povo, minha gente. De minha memória imagino que restará somente aquilo que realmente importava quando estava a caminhar em minha jornada: a doação, a renúncia, o amor, o perdão... O restante de minhas futilidades será jogado em um oceano de perdição para todo sempre.
Por tudo isso, quando terminar minha jornada, desejo que possa ter ensinado algo aos que aqui deixarei, de forma que erros sejam sinalizações para uma vida mais zelosa e que meus acertos sejam marcos para a reflexão e mudança.
Creio não estar presente nesta existência para ver o desfecho do meu fim entre os vivos. Portanto, não quero choro, nem vela, nem cortejos. Gostaria sim de uma bela música, doces palavras e um forte café, para que todos os presentes olhem para o meu fim e sejam capaz de refletir sobre o término de suas próprias jornadas.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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