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20 de fev. de 2011

Eu e a falsa certeza

Em nossas supostas reflexões assumimos certezas estranhas sobre os outros. É bom estarmos enganados sobre elas e, mais ainda, aprender que não somos os donos da verdade  

"Outro dia me comuniquei com uma amiga que conheci no Ensino Médio. Já havíamos perdido contato fazia quase cinco anos e, devido à ferramenta da internet, consegui enfim localizá-la. Nós sempre nos gostamos muito enquanto éramos estudantes.
(...)Pensava na previsibilidade que era evidenciada por seus atos e reações e, tendo então falado com ela depois da meia década de distância e separação, aprendi uma valiosa lição sobre a vida. As coisas mudam! As coisas mudaram de forma que me surpreendi mediante minha mediocridade ao lançar olhares sobre a vida de uma pessoa e lhe vislumbrar um futuro vazio."
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Outro dia me comuniquei com uma amiga que conheci no Ensino Médio. Já havíamos perdido contato fazia quase cinco anos e, devido à ferramenta da internet, consegui enfim localizá-la. Nós sempre nos gostamos muito enquanto éramos estudantes. Ela era aquela adolescente distraída e pouco reflexiva, enquanto eu era o oposto, intelectual e nerd da sala a quem ela recorria às vésperas das provas e entregas de trabalhos. Fora assim que nossa amizade começara, através de minha disposição a oferecer algo que ela precisava. Mas o interessante é que deste ponto um tanto raso, passamos a compartilhar mais que coisas voltadas ao cotidiano das obrigações estudantis, nos tornando amigos inseparáveis.
Nós conversávamos sobre vários tipos de assunto. Cada um ao seu modo, mesmo com nossos mundos tão distintos, tínhamos como muito agradáveis os momentos que estávamos juntos. Acima de tudo, entre coisas sérias, ríamos da vida, de nossas manias, nossos defeitos e nossas qualidades.
Eu confesso que tinha uma preocupação em relação à minha amiga tão querida. Eu pensava no dia em que terminassem nossos tempos de estudantes e começasse a corrida frenética para trabalho, relacionamentos estáveis e prosseguimento do estudos. Passava por minha cabeça que ela teria um futuro bastante previsível, o que me levava a insistir para que ela se esforçasse mais intensamente e fosse mais zelosa quanto ao estudos e a vida.
Me recordo dos últimos dias de aula, das provas finais e de nossa formatura. Era uma etapa maravilhosa que tinha seu fim. E dali os rumos foram inevitavelmente se dispersando. Tão logo eu me mudara da pacata Santo Antônio de Pádua para a nem tão pacata Angra dos Reis. Deixava meu mundo e meu tudo para reconstruir tudo novamente: vínculos, amizades e uma identificação com meu novo lar. Assim me perdi de minha amiga e de muitos outros, sendo que em minha memória eles sempre estiveram vívidos e presentes.
E na vivicitude da memória de cada um deles, tinha comigo que minha amiga mais chegada não teria ido muito longe nesses cinco anos que escorreram no tempo. Pensava na previsibilidade que era evidenciada por seus atos e reações e, tendo então falado com ela depois da meia década de distância e separação, aprendi uma valiosa lição sobre a vida. As coisas mudam! As coisas mudaram de forma que me surpreendi mediante minha mediocridade ao lançar olhares sobre a vida de uma pessoa e lhe vislumbrar um futuro vazio.
Ao me comunicar com ela e falar de minha realizações e mudanças, sobre a faculdade que concluíra e sobre a pós-graduação que estava cursando junto a uma nova graduação, fiquei maravilhosamente surpreso diante da resposta que ela me enviara. Assim como eu, ela terminara seu curso superior, sendo que falou com empolgação extrema da pós-graduação que iniciaria no início de 2011. Ali, eu percebi que estive severamente enganado e meu engano tornou-se um motivo inicial de vergonha, para depois revestir-se de aprendizado e, acima de tudo, alegria por ver uma pessoa amada pautando e realizando sonhos.
Eu minhas e minhas futilidades, pensei após ver a resposta. Quem sou para lançar juízos sobre uma vida que segue seu curso em meio à existência? Que direito eu teria em olhar para as pessoas à minha volta e criar padrões de felicidade e escolhas para suas vidas? A partir daí eu lamentei por ter tentado alcançar este patamar estranho de falsas certezas.
As coisas mudam e tomam rumos que não conhecemos. Nossas certezas e olhares são limitados por demais sob perspectivas de observação, causa e efeito. E tudo isso me leva a crer que é muito bom estarmos enganados em nossos momentos de senhores donos da razão, pois assim aprendemos e retesamos aquela parte cinzenta que clama de dentro de nós para caminhos cinzentos e uma vida sombria onde temos certeza tudo, mas não somos capazes de enxergar nossa própria a felicidade a um palmo de distância. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
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