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12 de jan. de 2011

Batidas à porta

Em meio ao silêncio de sua existência alguém bate à porta. Quem será? Você vai atender? Como?

"A evidência de tais princípios vêm à tona exatamente no momento em que o silêncio de seu mundo, sua casa e sua xícara de chá são rompidos por batidas à porta. Murros ou batidas suaves ecoam pelo espaço da sala, deixando somente o mistério e a interrogação sobre quem seria em uma hora derradeira, momento importuno ou simplesmente situação que não havia qualquer desejo ou intenção de receber alguém."

Pense em momentos em que você se vê diante de situações sem sentido ou razão para tudo o que faz ou acredita. Felizmente você pode estar em dias bons, de forma que o sentido desencontrado não se mostre algo relevante para o imediato da questão, não te conduzindo a decisões que possam levá-lo ao arrependimento. Então, usando deste fio de compreensão, você toma de suas crenças, seus valores e tudo mais que considera razoável para seguir adiante e se retira para dentro de seu mundo, a casa de seu coração, tudo isso em paz e sossego, isso mesmo diante do que veio para confundir. Por fim, o que se alcança é um vislumbre de que as aflições e dúvidas não são maiores ou mais imponentes que as escolhas que te levaram a momentos tão únicos.
E dentro de si, no aconchego e refúgio daquele lugar onde você geralmente se encontra somente com Deus e consigo mesmo, o desejo não é o de entender o mundo e buscar respostas, mas somente de alcançar uma plenitude de vida, ainda que não se entenda exatamente o porquê das coisas. Com uma xícara de chá de hortelã nas mãos, mesmo com o vento soprando frio do lado de fora, o coração se aquece, aguardando que a tempestade cesse e certos sorrisos tenham de volta seu espaço. 
Seria a vida muito mais fácil de ser vivida se fosse sempre assim, se pudéssemos ter nossas decisões isoladas em meio ao desespero do barulho estranho que há em parte da existência. Mas é claro que não é nem nunca será desta forma. Existem mundos outros além de nossos próprio mundos, casas e casas onde existem a unidade do grande coletivo que compõe a vida. As decisões, ainda que individuais na essência do ser, estão bricoladas a tudo e todos que nos cercam. Felizmente assim o é, não somos donos de nossas vidas da forma como achamos...
A evidência de tais princípios vêm à tona exatamente no momento em que o silêncio de seu mundo, sua casa e sua xícara de chá são rompidos por batidas à porta. Murros ou batidas suaves ecoam pelo espaço da sala, deixando somente o mistério e a interrogação sobre quem seria em uma hora derradeira, momento importuno ou simplesmente situação que não havia qualquer desejo ou intenção de receber alguém.
Diante disto fica a escolha de atender ou não à porta. Você pode se isolar em seu silêncio ou simplesmente se dar o direito de ser desafiado pelo ser que lá estará postado, esperando algo ou tendo algo a oferecer. Digo então que o ideal é sempre romper o silêncio e ir... Pode ser alguém precisando de ajuda, oferecendo ajuda; poder ser uma certeza esquecida, uma nova certeza ou uma certeza reconstruída; pode ser uma dúvida vestida de um novo sentido, uma velha dúvida que persiste em retornar à sua vida ou uma nova dúvida que terá uma ou outra proporção, boa e ruim; pode ser o medo, angústia ou dor; pode ser uma boa ou má notícia... 
Independentemente do que esteja batendo à porta, a grande questão será sua reação. Como você receberá seu inesperado visitante? Como lhe falará? Permitirá que ele entre? Se sim, lhe oferecerá chá, café, um lugar para sentar? Quais serão suas ações diante do que virá? 
Tudo isto é muito complicado. Por mais que pensemos, nunca aceitamos quando as batidas à porta se revelem más notícias, dores, problemas... Por isso é necessário medirmos bem nossos passos até momento de abrirmos a porta e contemplarmos o inesperado. O caminho entre a introspecção da xícara de chá e a porta fará toda diferença para as decisões que teremos, para o que seremos.
E nada melhor que atender a porta ao lado da fé. A fé em Deus, na beleza da vida, na esperança de dias melhores... Somente a fé pode nos dar o verdadeiro sentido em meio ao inesperado. Ela transcende o tempo e o espaço. A fé é capaz de rememorar o passado para nos manter firmes, sustenta o presente e, acima de tudo, cobre-nos com a sensação de que o futuro terá seu bem mesmo em meio às dificuldades da vida.
Neste momento me encontro ao caminho da porta. Quero a  fé ao meu lado para trazer à memória aquilo que renova minha esperança. Tenho em meu coração que o acontecimento que me aguarda, sendo bom ou ruim, mediante à fé, jamais será suficiente para usurpar minha crença de que dias melhores virão. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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