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24 de jan. de 2011

O Vendedor de Sonhos - A Revolução do Anônimos

A Revolução dos Anônimos é um repertório fascinante para se pensar sobre a beleza da existência 

"Confesso que, a princípio, fui tomado pela sensação do novo, o enredo simples era demasiado inovador em relação às minhas expectativas. Tão logo me encantei pela narrativa descontraída firmada no dia-a-dia e vivência de um grupo de anônimos que tornaram-se seguidores de uma figura que andava pelas ruas da cidade vendendo sonhos, falando de expectativas de vida e felicidade, criando e respirando poesia em meio às coisas mais simples."

Este livro se revelou um grande surpresa ao término de 2010. Já havia lido outra obra de seu autor, Augusto Cury (Pais brilhantes, professores fascinantes), mas não a considerei uma leitura apreciável, o que me levou a criar certa resistência em relação aos seus demais escritos. 
Comecei então a me adentrar por entre as páginas de  A Revolução dos Anônimos, isso já com uma intenção inicial de alcançar satisfação, pois o tinha recebido com tanto carinho como presente vindo de uma pessoa muito especial. Estava com um desejo ardente de estar enganado quanto à potencialidade do livro tornar-se prazeroso.
Atendendo meu desejo, já no início da trama comecei a achar tudo muito interessante. Confesso que, a princípio, fui tomado pela sensação do novo, o enredo simples era demasiado inovador em relação às minhas expectativas. Tão logo me encantei pela narrativa descontraída firmada no dia-a-dia e vivência de um grupo de anônimos que tornaram-se seguidores de uma figura que andava pelas ruas da cidade vendendo sonhos, falando de expectativas de vida e felicidade, criando e respirando poesia em meio às coisas mais simples.
O Vendedor de Sonhos, personagem central chamado de mestre por seus seguidores, aparece sempre como o vulto de alguém que superou um passado misterioso e dele tirou lições grandiosas sobre a vida. Sua figura é de um homem franzino, mal vestido, mas com uma intelectualidade e sensibilidade fascinante em todos os sentidos. Ele, em sua jornada entre viadutos, praças, dormindo ao relento e sobrevivendo da generosidade de seus acompanhantes e amigos, desafia autoridades e supostas sumidades sociais com a beleza e ousadia de seus discursos sobre vidas vazias, existências sem sentido e paradigmas sociais esdrúxulos. Sua atitude de vender sonhos dá-se no ato mostrar às pessoas à sua volta o olhar ao sensível e o caminho da felicidade plena alcançado na sintonia entre razão e emoção.
Seus discípulos, moradores de rua, alcoólatras em recuperação, pessoas marginalizadas e sonhadores, são apresentados pela narrativa de um professor-doutor frustrado que abandonou sua rotina para aprender da sabedoria do Vendedor de Sonhos. Juntos formam uma divertida trupe que arranca risadas por todo o livro, além de momentos belos e reflexões profundas sobre desigualdade, depressão, perdas, ganhos, sonhos, medo, coragem e amizade.
Mesmo com uma linguagem simples e um enredo sem grandes reviravoltas ou inserções complexas, A Revolução dos Anônimos traz consigo o mistério que envolve a figura do mestre, deixando para o final a grande revelação que há em torno do personagem que muito lembra o Profeta Gentileza, que fazia algo bastante similar nas ruas da cidade do Rio de Janeiro com seu lema "Gentileza gera Gentileza"
Outro fator interessante que marca a obra é o fato da mesma, ainda que uma continuidade de O Vendedor de Sonhos - O chamado, é independente em sua narrativa. Mesmo não lendo o precursor da Revolução dos Anônimos, não houve, em momento algum, a sensação de descontinuidade ou falta de informações para entendimento da trama. 
Enfim, tenho a dizer que, ainda que não correspondesse ao meu estilo preferencial de desenvolvimento do enredo, A Revolução dos Anônimos foi uma experiência extremamente prazerosa e inspiradora, já que compensa pelas reflexões profundas em meio a um clima verdadeiramente cômico. Confesso que não me lembro de uma leitura que me trouxesse momentos de tantas risadas, unindo de forma tão bela as coisas mais relevantes da existência com a alegria e descontração de se lançar olhares à existência.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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