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2 de jan. de 2011

Ainda sobre desejos...


Convido você a se deparar com os mistérios e aprendizados que há em seus desejos 

"E em meio aos turbilhões advindos dos conflitos claros na amálgama que há entre o que existe dentro de meu ser e aquilo que há nas imensidões de existências além da minha própria, penso nestes meu desejos. O que desejo realmente? O que me leva realizar escolhas acertadas ou tão cinzentas? Afinal, o que me leva a desejar algo hoje, alcançá-lo amanhã e esquecê-lo depois de amanhã? O que me faz desejar ou "desdesejar" tudo de novo?"


Tão sedento por ver e viver as belezas da vida, encerrei  o ano lançando minhas razões e emoções à busca intensa por desejos de uma compreensão dos sentidos da vida, almejando como nunca a consumação de vislumbres que me levaram tão além de minhas futilidades e conceitos torpes de tantas e tantas coisas... que me aproximaram do Criador, que me afastaram de meu ego e que resignificaram compartimentos de verdadeira relevância, há tanto esquecidos ou perdidos nos labirintos de minha existência tão fútil e confusa por tantas e tantas vezes.
E em meio aos turbilhões advindos dos conflitos claros na amálgama que há entre o que existe dentro de meu ser e aquilo que há nas imensidões de existências além da minha própria, penso nestes meu desejos. O que desejo realmente? O que me leva realizar escolhas acertadas ou tão cinzentas? Afinal, o que me leva a desejar algo hoje, alcançá-lo amanhã e esquecê-lo depois de amanhã? O que me faz desejar ou "desdesejar" tudo de novo?
À medida que vou me apropriando da reflexão sobre os meus desejos, a conclusão a que chego é que sei o verdadeiro significado de minhas aspirações exatamente quando as evoco, isso quando tenho ao menos momentos onde paro para observar as procedências de águas que brotam de dentro de mim. Imagino que elas, meus sonhos e desejos, surjam de regiões profundas do meu ser. Por fim, as vejo não como meio em si de se alcançar as todas as coisas, mas a concretização das exigências e pertinências de minha alma, de decisões e caminhos já demarcados, que acabam por despontar e aflorar como sonhos, ideias e ideais...
Confesso que ainda não sei do que se tratam estes caminhos demarcados que afloram os desejos, se são razão, emoção, algo espiritual ou respostas a estímulos externos, de dentro ou de fora ou até mesmo um pouco de cada coisa. Admito que provavelmente nunca saberei ou encontrarei quem saiba, mas insistirei em olhar para tudo isso em um vislumbre que aponta para eternidade que eu creio existir como resposta a todas as perguntas e dilemas humanos. Um dia eu sei que alcançarei o remanso das águas de minha existência...
E ainda que eu não seja capaz de obter todas as respostas, isto já se mostra promissor para que eu compreenda a proporção de minha vida através dos apontamentos que me dão meus desejos. Eles, despontando de forma bela ou estranha de meu ser, somados às pistas que o Criador nos deixou para olharmos para existência, mediante nossa imperfeição, me darão pistas se meus caminhos demarcados me conduzirão ao encontro com Ele ou me levarão ao abismo da perdição pelo meu próprio ego ou pelas infinitas rotas vazias que nos cercam e nos flertam diariamente.
Sim, eu credito e acredito em desejos desta forma. Parece tão confuso, mas se revela tão essencial para que eu ao menos apalpe os caminhos que trilho em minha existência, já que a Luz é pura e forte demais para meus olhos degradados e de pouca intensidade sobre verdadeiramente enxergar. 
Sendo assim, a partir daí, posso então imaginar que os desejos requerem extrema atenção. Estes mesmos desejos revelam-se como aquilo que brota nas clausuras do meu ser, revelam o que sou de fato . Agem como se acendessem em mim luzes e gerassem sombras, trazendo consigo possibilidades imensuráveis de se tornarem prisões, a materialização dos caminhos definidos que disse não conhecer, que posso chamar aqui de meu nada ou minha noite profunda.
Sabendo disso eu apreendo, enfim, que muitas vezes terei de ser maior que meus desejos usando das pistas que possuo, pistas que Deus me dá quando sou capaz de ouvi-lo. Terei que questionar e abandonar certos anseios e aspirações para ir direto à fonte, ao desconhecido dentro de mim que os gerou e percorrer a noite de descobertas em meio ao meu ser e os rumos a compreender e mudar...
Isso me faz lembrar do trecho de um livro de contos (Os Segredos do Rei do Fogo), que muito se aproxima desta percepção sobre desejos:

"Entretanto, o desejo se cria do nada, do ar. Quando buscamos, emanamos uma luz e as sombras se levantam em torno de nós, tremulantes, esquivas, mas, em seu cerne, tão redondas e fortes quanto barras de ferro. Aquilo a que aspiramos acaba por nos definir. Somos enjaulados pelos nossos próprios desejos. Até, num forte anseio, largarmos nosso facho de luz na areia negra e invisível, abrirmos nossos braços para a perda, para o nunca, e nos entregarmos completamente àquela noite profunda."  


Para concluir, até no meu nada eu poderei criar algo, mudar o rumo dos desejos que ali nascerão, saber porque nasceram. Digo isso não por mim mesmo, mas pelo Criador, que me presenteou com a luz da lua e das estrelas em meio à noite e que, acima de tudo, se eu ceder ao Seu chamado, pode raiar dentro de mim como o Grande Sol de Justiça, iluminando e aquecendo as sombras de meus desejos, esmigalhando as grades que eu mesmo criei, me fazendo verdadeiramente livre... livre para desejar seus desejos tão intensos e belos para que eu seja realmente feliz.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto, depois de vários meses de reflexões sobre desejos  
     

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