Páginas

20 de jan. de 2011

E eu me pergunto o porquê...

Quais são os porquês que existem por trás de seus sentimentos? 

"Não sei se isso tem sentido para você que lê estas palavras tão confusas, mas quando pergunto a mim mesmo meus porquês, vejo meus sentimentos e desejos se elevarem para um mundo além do meu próprio ser. Explodem como um maremoto no oceano silencioso que há minha essência, deixando cair as máscaras, diluindo as falsas justificativas e dispersando os detritos que turvam suas águas. É como se aquilo que é propriamente meu fosse exposto diante do Tudo, sendo confrontado pela grande Verdade que há na existência: a verdade do plural, dos seres criados para viverem suas vidas em sintonia uns com os outros, servindo, amando, renunciando, cedendo, compreendendo..."

Todos nós, seres humanos, temos a capacidade de refletir sobre nossas ações antes e após sua consumação. Os animais agem por instintos, impressões genéticas que os conduzem a acasalar, a criar sua prole, a se defender de seus inimigos. Mas nós também possuímos instintos, mas estes geralmente se manifestam de forma sutil, sendo que, por fim, estão sempre sujeitos à reflexão, podendo ser suprimidos, abraçados ou até mesmo resignificados sem grandes ou demasiados esforços.
E interessante é que entre a esfera genética e racional se ergue um grande dilema: a emoção. A emoção não é instinto ou razão, é somente o ato incontrolável de se reagir diante da existência. Não se escolhe o que sentir e como sentir, apenas há sensação. Assim, até mesmo a razão é driblada, já que, ao fim, mesmo querendo ou não sentir, o sentimento prevalece, eleva-se sobre a razão e os próprios instintos.
Justamente por tal configuração de nossa estrutura emocional é tão comum nos vermos presas de amores impossíveis, sonhos inalcansáveis e sem sentido, desejos ocultos... são sentimentos que brotam como ervas não semeadas em nosso coração, aprofundam suas raízes e florescem no jardim de nossas almas.
Nós sentimos medo, amor, ódio e indiferença sem quaisquer motivações claras. Nos alegramos e nos entristecemos com facilidade, sendo que às vezes migramos de um mundo ao outro mediante palavras, gestos ou até mesmo sem o surgimento de algo visível ao nosso entendimento.
Fica evidente que não há respostas sobre como surgem as emoções ou até onde elas conduzem o ritmo da vidas, mas creio ser necessária uma reflexão profunda não sobre suas fontes ou origens tão remotas, mas até onde se dão os limites de sua realidade e veracidade em meio à existência.
Levanto tais apontamentos exatamente por vivermos em um mundo confuso e atribulado, lugar onde as emoções afundaram em um abismo onde são lançadas ao extrema da indiferença ou são conduzidas como ápice que se ergue acima do bem e do mal. Atualmente usa-se como desculpa o lema de viver sobre a pura e simples realização dos desejos e emoções, sendo que não há tempo nem um mínimo de esforço de se arrazoar sobre tais emoções.
Sob estes parâmetros, a humanidade se vê no direito de lançar-se à vida somente para realização de seus padrões sentimentais, o que gera uma verdadeira reação em cadeia de uma doença mundial. Daí cria-se uma rede de indivíduos egoístas que simplesmente fazem e buscam o que sentem.
Mas será justo conosco mesmo e com nossos semelhantes fecharmos nossos olhos à existência e nos lançarmos à vazão de nossos sentimentos? Eu creio não ser. As emoções, seja lá de onde surgem, em essência, brotam de águas escuras e desconhecidas, podem ser boas ou ruins para nós ou para aqueles que estão à nossa volta.
Não há como não sentirmos ou crermos na fantasia ou ilusão que seremos donos de nossos corações, mas um caminho interessante a nivelar as arestas dos sentimentos é o questionamento, a dúvida. Sim, os sentimentos que brotam quando postos em contraste diante da realidade e de certos valores acima da esfera humana (altruísmo, perdão, renúncia...), quando questionados ou postos à prova, revelam-se, então, passíveis ou não a merecerem o crédito de nossas atitudes.
É justamente por isso que eu sempre me pergunto o porquê. Por que tenho medo de tocar em certos assuntos? Por que amo ou odeio? Por que ignoro certos lugares, pessoas, projetos, ideias? Por que confio ou desconfio? São perguntas que talvez nunca serão capazes de mudar o que sinto, mas que me darão sentido para prosseguir ou cessar com as consequências do que sinto, isto pensando em um mundo de seres humanos à minha volta.
Não sei se isso tem sentido para você que lê estas palavras tão confusas, mas quando pergunto a mim mesmo meus porquês, vejo meus sentimentos e desejos se elevarem para um mundo além do meu próprio ser. Explodem como um maremoto no oceano silencioso que há minha essência, deixando cair as máscaras, diluindo as falsas justificativas e dispersando os detritos que turvam suas águas. É como se aquilo que é propriamente meu fosse exposto diante do Tudo, sendo confrontado pela grande Verdade que há na existência: a verdade do plural, dos seres criados para viverem suas vidas em sintonia uns com os outros, servindo, amando, renunciando, cedendo, compreendendo...
 E assim eu desejo seguir lançando aos meus sentimentos a força libertadora dos porquês. Se eles realmente estiverem em harmonia com o princípio que rege a beleza da vida, terão um potencial infinito de encontrarem certeza para se enobrecerem. Se não, se estiverem maculados somente por interesses de meu ego, terão com os porquês ao menos um contraponto para a reflexão, de forma que tais sentidos sejam coibidos e, acima de tudo, transformados pelo tempo e pela serenidade alcançada unicamente em uma relação de humildade para com o Criador. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

Um comentário:

suavidade disse...

A gente sempre se questiona de tudo...
Por ques e mais por ques...
É importante esse processo no nosso crescimento.