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22 de jan. de 2011

Coisas boas da vida...

Simplicidade é o caminho ideal para a felicidade, para se ver as coisas boas da vida


"Esta questão existencial, que sempre insisto em evidenciar, está voltada para os bens que se constroem em princípios de isonomia humana, mutualismo, doação e afeto. Tais fundamentos ocupam em nosso ser o espaço que verdadeiramente importa ser preenchido, trazendo o conceito de real de felicidade, tão distante da proposta de prazer sem razão de um mundo do imediato, sem reflexão, sem poesia."



Costumo dizer que a vida é muito mais bela do que imaginamos. Mesmo em meio às intempéries que há no cotidiano pode-se extrair coisas que encontram-se em um patamar extremamente mais elevado  que o cansaço, o excesso de questões a resolver e os momentos de inação diante do caos de nossos dias.
Não nego que viver é uma tarefa extremamente complexa, principalmente em uma sociedade como a nossa, mas afirmo que há muitas belezas que ignoramos, belezas estas dotadas de sentidos tão relevantes para uma existência verdadeiramente plena, pulsante e graciosa.
Esta questão existencial, que sempre insisto em evidenciar, está voltada para os bens que se constroem em princípios de isonomia humana, mutualismo, doação e afeto. Tais fundamentos ocupam em nosso ser o espaço que verdadeiramente importa ser preenchido, trazendo o conceito real de felicidade, tão distante da proposta de prazer sem razão de um mundo do imediato, sem reflexão, sem poesia.
Partindo do ideal ou sonho – use a palavra que achar melhor – de que a essência é de muito mais valia, repito para mim mesmo o quanto sou agraciado em viver minha vida. Mesmo não tendo o tempo que gostaria de dispor, os recursos que atenderiam minhas necessidades e até mesmo a compreensão de todas as coisas que me afligem, fito o tracejar dos meus dias e estampo um sorriso que transborda de dentro de meu coração.
O que dizer dos momentos tão belos que esta viagem da existência nos proporciona? Bem, por mais que eu insistisse creio que não haveria palavras para descrever a totalidade de percepções diante de olhares, sorrisos, pessoas e vislumbres. É algo que muito transcende o conhecimento e, para tanto, faz-se tão completo em suplantar nossos vazios, nossos medos e dúvidas cruéis.
Muitas pessoas podem achar loucura o ato de lançar olhares sobre as coisas mais simples. Estamos mais acostumados a buscar o grandioso, o que traz fama, o que conduz ao dinheiro, mas acabamos ignorando que tais caminhos são cinzentos e fadados à prisão e destruição do ser. E assim adoecemos de nossas almas: rimos sem saber exatamente o porquê; choramos além do necessário; investimos o tempo em inutilidades; envelhecemos tendo a sensação de que nunca fomos felizes; nos tornamos demasiadamente desconfiados; não permitimos que as pessoas nos conheçam como somos; consumimos desesperadamente produtos na tentativa de suprimir o vazio do ser; descartamos pessoas; estamos acompanhados, mas sempre solitários.
Creio que a configuração do mundo pós-moderno facilita muito o processo de adoecer da alma. Digo isto por ter tido uma experiência tão diferente do que hoje fito à minha volta. Cresci ao lado de um leitor atento e uma mulher voltada á sensibilidade do céu, da chuva, das palavras. Fui me fazendo e refazendo nas conversas de beira de calçada, nas tardes de caminhada, nas noites frescas, no olhar das garças que subiam o rio pela manhã e o desciam na viração do dia.
Tudo isto foi vivido em meio à quietude do pequeno vilarejo, ao cheiro de mato, poeira e terra molhada ao sabor da chuva. Era a existência que se vestia do novo a cada café na casa da avó, a cada mergulho no rio e corrida com os pés descalços em meio à algazarra da criançada que vivia solta como passarinho.
As marcas do menino curioso que era sempre levado a pensar sobre a vida se impingiram no jovem que teve que abandonar o pacato vilarejo para seguir com a vida, pelejar com o sistema, trabalhar, estudar. Neste jovem que tanto sonhava ia se formando o homem que expandiu seu gosto pelas letras e escrita, pelas reflexões sobre a vida e a graça em se viver.
E assim reconheço que há muitas coisas boas na vida. Por mais que eu me canse ou até mesmo me desanime em certos momentos, às vezes teimo em ser aquele menino ou jovem sonhador. Tiro meus sapatos e ando descalço, corro ou ando devagarzinho pela chuva, rio e faço graça de mim mesmo, me misturo às crianças e me deixo levar por suas brincadeiras, danço sozinho, canto... A vida, então, toma de novo seu sentido, ou ao menos parte dele.
Essa crença, essa prática de ouvir o menino e o jovem que um dia eu fui, tornam as coisas mais belas, mais interessantes e pulsantes. Na verdade, esta parte tão nobre que há dentro de mim me eleva para olhar com mais atenção para o mundo à minha volta, geram uma sensibilidade que me traz tanta paz e desejo de viver.
Posso até ser visto como louco ou demasiado sensível ou bobo para os modelos de “homem” que existem, mas não sinto vergonha de ser o que sou ou de sentir aquilo que considero vital. Me sinto pleno não com a bebida, com drogas, com luxo, poder, com depravação ou agressividade, mas sim com a simplicidade de rir com as pessoas à minha volta, com a companhia das crianças , com o valor das amizades, com a manifestação da natureza e com um amor verdadeiro e poético para com as mulheres de quem me aproximo ou me aproximei.
Não me sinto fraco por chorar ao abraçar alguém. Não tenho medo de sorrir ou chorar de emoção diante de um sonho compartilhado, um presente recebido ou um gesto de carinho. Posso não ser a pessoa que a sociedade deseje, mas sou alguém que olha para o caos e consegue ver que há coisas boas na vida, as coisas que verdadeiramente importam, já que todos estamos aqui de passagem.
Digo que as coisas mais importantes são as mais simples, pois são justamente elas que prevalecerão quando chegarmos ao fim de nossa jornada. Quando vier a velhice, a fraqueza do corpo, a doença repentina, a perda do ente querido, a tragédia familiar ou quaisquer outras mazelas de que somos potenciais atingidos, terá importado muito pouco ou quase nada o vigor dos exageros e futilidades. Isso trará muito mais amargura de um tempo que poderia ser vivido de outra forma, da maneira intensa, dos sentidos e da beleza que transcende nossos trapos de verdades.
Fica claro que alcançar uma vida reflexiva não é tarefa de um dia para o outro e que, atualmente, tal desafio é ainda mais complexo. É necessário então provar do amargo remédio de abandonar a reação automática, questionar a lógica do consumo e da mídia e transgredir nossas verdades e conceitos de felicidade.
Para ver as coisas boas da vida é preciso dar uma de louco e abrir mão da suposta felicidade que nos traz o individualismo. É preciso doação de si aos semelhantes, entrega e cuidado. Desta forma a beleza brota como uma fonte de águas revigorantes em meio à sequidão. Quando se alcança este patamar não é preciso sequer preocupação em ser feliz. Por fim, você reconhece as coisas boas da vida e, quando percebe, descobriu de forma tão natural a felicidade que tanto esteve à procura. Passa a ser feliz e pronto! Simples assim!

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

3 comentários:

suavidade disse...

O extraordinário reside na simplicidade...
Nas coisas que fazem a vida acontecer verdadeiramente...

Edward de A. Campanário Neto disse...

E a vida sempre acontece, mas na maioria das vezes não nos damos conta disso.

karol.andrade2001@gmail.com disse...

E o amor é lindo mais ñ acho que o amor ñ é paz e´comisas boa mesmooooo