Páginas

20 de nov. de 2010

A Casa

 
Não estamos construindo um mundo de vazios? Nossas casas a cada dia se tornam espaços opacos e sombrios, sem sentido, já que já não se vê sentido na vida
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero

Poesia de Vinícios de Moraes

Não só nossas casas, prédios e edifícios têm se tornando espaços vazios, sem nada, mas também nossas vidas. A cada segundo a humanidade se perde em seus próprios caminhos tão confusos e cinzentos. A vida perdeu seu chão, já que caímos em um poço sem fundo que nos engole para a escuridão da frieza relacional. Também perdeu-se a rede de paz e tranquilidade, muitos já não podem dormir sem seus remédios, sem a condução do álcool ou sem se levantarem várias vezes, numa sina onde o tempo que falta durante o dia sobra de forma sinistra pela noite.
E como pensar num mundo com tanto esmero quanto o nosso? Este esmero rompeu-se na cobrança e exigência de que tudo seja bem feito e de imediato, sempre apontando para o lucro, maldito lucro que nos exige esmero para serví-lo, mas que não nos permite um esmero com nossos filhos, esposas, pais, amigos e, por fim, com o pouco que ainda nos sobra de sentido ou de vida.
Já passou da hora de tomarmos as ferramentas de nossas vidas das mãos do construtor de casas vazias e entregá-las ao Grande Arquiteto do Universo. Pode surgir a pergunta: Quem é o construtor do vazio? A resposta: É aquela parte de nós que cede ao vazio de querer sempre estar cheio, a busca cega de uma satisfação e plenitude que está além do que é realmente e necessário e aquém daquilo que verdadeiramente nos preenche.
Eu cheguei à compreensão de que não quero ser uma casa vazia, sem paredes, sem nada. Quero ser uma casa na colina verde, com crianças correndo dentro de mim, com alguém olhando pela janela. Se o vazio vier bater à minha porta, quero que alguém dentro de mim o atenda com respeito, mas que o nunca o convide para entrar.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto 

2 comentários:

Anônimo disse...

Só Deus mesmo para preencher o vazio existencial... E o preenchemos com tantas coisas desnecessárias que ocupam espaço e impedem Deus de habitar em nós. Lindo o que vc escreveu, a casa na colina verde, crianças dentro de si... Não tenho palavras... Transcedental.

Edward de A. Campanário Neto disse...

É mesmo difícil abrir este espaço para Deus em nossas vidas, mas depois da decisão, as coisas começam a acontecer. Nossa existência passa a ter sentido, as cores preenchem nossa visão, os sorrisos tornam-se mais frequentes e até mesmo as lágrimas ganham uma nova significação...
Algo que só Deus mesmo é capaz de fazer!