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9 de nov. de 2010

Evolução da ciência acelera particulas, mas mostra-se incapaz frear as mazelas da humanidade

O desenvolvimento da ciência muito impressiona, mas também assusta devido à sua negligência diante das mazelas da humanidade. Afinal, de que vale desvendar a origem do universo se não conseguimos sequer eliminar a fome no mundo?

"É inegável que a ciência e conhecimento se desenvolveram de forma impressionante, mas é também lamentável chegar à conclusão de que tornaram-se instrumentos manuseados por um grande esquema mundial, onde percebe-se de forma gritante o patamar entre países que a dominam a ciência moderna de forma absoluta em contraste com aqueles que se encontram na linha do subdesenvolvimento, se utilizando de recursos precários e técnicas menos eficientes diante de suas demandas."

Nesta segunda-feira o mundo parou diante dos novos experimentos do CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares - sigla em francês), com o LHC, o maior colisor de hadrons (partículas atômicas) existente, onde pela primeira vez íons de chumbo foram acelerados a altíssimas velocidades para se chocarem. O procedimento será realizado até dezembro, com o objetivo de esclarecer com mais precisão os primórdios do universo e da formação da própria existência da matéria.
Vendo tudo isso, fico surpreso com inciativa internacional em prol de um projeto tão caro como o do LHC (mais de 3 bilhões de euros, só para sua construção)  e, ainda mais, com o esforço de unir as melhores e mais capacitadas equipes de trabalho de todo o mundo, que nele desenvolvem suas pesquisas. Isso é algo bom, a ciência é algo fascinante, mas muito se faz necessário sairmos deste show de pirotecnia sub-atômica e lançarmos olhares críticos aos rumos tomados pela mesma ao longo dos tempos. 
É inegável que a ciência e conhecimento se desenvolveram de forma impressionante, mas é também lamentável chegar à conclusão de que tornaram-se instrumentos manuseados por um grande esquema mundial, onde percebe-se de forma gritante o patamar entre países que a dominam a ciência moderna de forma absoluta em contraste com aqueles que se encontram na linha do subdesenvolvimento, se utilizando de recursos precários e técnicas menos eficientes diante de suas demandas.
 Indo para o campo de micro-estruturas, dentro muitos países, em suas cidades e/ou regiões, o abismo é ainda maior, apontando para a supremacia de grupos corporativistas no domínio da produção de saber científico de acordo com seus próprios interesses e formas de obter mais e mais lucros e retorno desta posição de controle sobre pesquisas. Muitas vezes projetos em universidades públicas de importância à população local chegam a ser substituídos por propostas de grupos privados, que visam somente mais um veio para um mercado consumidor em potencial.     
Não é por aí que começam ou terminam as contradições de um mundo tão cientificamente desenvolvido com uma realidade tão absurda. Enquanto a ciência da micro-partículas se desenvolve ao custo de bilhões, tentando entender a origem do universo, há um universo real de mais de um bilhão de famintos e miseráveis, massacrados e dizimados todos os dias por doenças que já tiveram suas curas descobertas há mais de 100 anos pela ciência. Isso é desesperador! A fome destes seres humanos poderia ser resolvida com as técnicas de plantio, com os sistemas inteligentes de distribuição e com os recursos infindáveis de conservação de alimentos. Mas por que isso não é feito? A reposta é que a ciência e suas benesses foram expropriadas pelas elites mundiais, tendo como meta principal a busca pelo lucro, e não pelo bem estar da humanidade.
Daí surgem ainda mais reflexões e controvérsias. Enquanto se busca a origem do universo cósmico em sua suposta criação a partir do nada, é ignorado o universo de um mundo diante de nossos olhos, marcado por mazelas quase que totalmente criadas pela desigualdade social, fato que conhecemos há milênios de história. Muitos cientistas querem conduzir suas convicções sobre a inexistência de Deus, sendo que em um mundo onde bilhões dizem crer em um princípio divino amoroso ainda se veem tantas atrocidades contra a vida. Prosseguindo, patentes de remédios impedem que muitas vidas sejam salvas e que milhões sejam libertos de flagelos que afligem seus corpos.
Não quero aqui postar-me contra um inimigo do desenvolvimento científico, mas como alguém que enxerga um pouco além da desgraça da humanidade e que conclui que suas causas estão nas mãos daqueles que dominam e detêm os saberes capazes de transformarem a realidade em favor dos oprimidos e não o fazem. Os seres humanos, principais focos para os quais a ciência deveria voltar-se, são desprezados  e tratados como coisas. Tudo isso pela justificativa do atendimento de anseios e extravagâncias que estão muito longe da verdadeira essência que nos humanos.
Refletindo sobre os íons de chumbo que se chocam no grande e magnífico LHC, vou dormir esta noite pensando em milhões de crianças, mulheres, homens e velhos que têm suas vidas em um grande colizor de desgraças. Ali não se chocam partículas atômicas de chumbo ou qualquer elemento, mas vidas humanas com a extrema miséria, com a fome, com enfermidades, com a guerra e com tudo mais de trágico e destrutivo que o uso da ciência e do conhecimento de milênios poderia ao menos amenizar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje logo pela manhã ao sair à rua, deparo-me com a TV. A notícia: mais um espancamento infantil, um bebê de apenas 4 meses... Junto com a imagem terrível do pai agredindo seu filho que era repetida inúmeras vezes, nos intervalos eram mostradas outras imagens de crianças, mortes e atrocidades. Os comentários ao redor eram também sobre as atrocidades da pedofilia envolvendo professores e alunos que tem sido veiculados na mídia estes tempos...
Tudo isto junto foi demais para mim, viajei 80km de desesperança... Não por achar que a humanidade não presta ou que está perdida, mas por indignação com tamanha violência, e a ingenuidade burra das pessoas que não percebem a manipulação de suas vidas através da mídia. Mostra-se o que é ruim, mas estes adultos monstruosos hoje são frutos desta mesma mídia violenta e manipuladora... Aí, você me pergunta o que isso tem haver com meu texto? Tudo...
No meu primeiro horário livre pensei: vou olhar o blog do Edward, quem sabe lá encontro algo que me resgate a esperança. Não encontrei uma mensagem tipo "pense positivo que tudo irá melhorar", mas uma reflexão sobre o mundo... [E isso é muito bom] Aí penso, sou professora, sou mãe, sou amiga. Mas tudo que realizo no meu dia a dia não passa na mída, não é vendável. O carinho e diálogo com as crianças, o esforço na alfabetização dos adultos, a jornada cansativa por um bom trabalho e a busca de uma comunhão sincera com Deus. As dúvidas sem resposta que as vezes acabam literalmente em pizza com um bom grupo de amigos! As burradas e gafes homéricas tentando acertar, quase sempre. ... Tudo isso não vende... Só vende show de sangue, promiscuidade e horror. Mas tudo isso é condicionamento, de quem? Do sistema? [Quem é o sistema senão nós que o mantemos?]... Mais algumas respostas sociológicas, psicológicas e filosóficas me vem a mente, mas tudo isso torna-se abstrado sem uma experiência real. Assim como você citou em seu texto... Estamos discutindo o surgimento da humanidade e não priorizando os seres humanos que já surgiram, que já vivem neste planeta! Paro, penso e respiro... Meu Deus, só Cristo para morrer por essa gente mesmo... Eu não conseguiria. Deve se por isso também que Ele em suas palavras disse que para conhecer "o seu mundo" [O reino dos Céus] e estar com ele lá, era preciso ser como uma criança...
Nesta altura do pensamento, me vem a mente Antoine de Saint-Exupéry, o autor de um dos meus livros favoritos "o pequeno príncipe", e eu respondo para ele: Sim Antonie, o essencial é invisível aos olhos!
Valeu Edward!