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15 de nov. de 2010

Rosa de Hiroshima

Vejo lágrimas em meus olhos devido ao terror da bomba nuclear, a Rosa Atômica que veio envenenar o mundo



Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

Vinícios de Moraes

De tantos horrores cometidos pela humanidade, um dos maiores e mais terríveis foi a construção de armas nucleares. Ainda que o nazismo, a diáspora negra, o massacre das nações indígenas nas Américas, as Cruzadas cristãs e a perseguição religiosa tenham tido seu papel no cenário de crimes contra a humanidade, creio que o projeto de armas de destruição em massa como as bombas nucleares conseguiu superar todos eles. O motivo se dá justamente no estágio de civilidade que dizemos alcançar, uma contradição com a principal razão de ser de uma bomba atômica: destruir como nunca se havia destruído em toda a história da humanidade.
Para alcançarmos compreensão do poder das bombas atômicas lançadas contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, basta pensarmos em acender um sol em cima de uma cidade, provocando uma nuvem de chamas capazes de incinerar milhares de pessoas em segundos ou centésimos de segundos. Isso é trágico!
A bomba nuclear havia sido preparada para ser lançada em Berlim, contra o regime de Hitler, mas ele já estava derrotado para ter a "honra" de sofrer o primeiro ataque nuclear. Assim, escolheram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, que transformaram-se em marcos da habilidade destrutiva de nações em sua busca ensandecida pelo poder e controle do tabuleiro mundial.
As duas bombas em si já eram algo terrível, mas a loucura humana não cessou. Cientistas, governantes e militares queriam mais destruição para terem mais poder. O projeto nuclear seguiu avançando e  fez  com que as bombas que incineraram mulheres, crianças, velhos, homens e jovens no Japão se tornassem "estalinhos" diante das novas armas nucleares, com poderes insuperavelmente superiores no quesito de destruição.
Enquanto as ogivas atômicas usadas contra o Japão em 1945 possuíam em torno de 21 quilotons de potência (o mesmo que 21 mil toneladas de dinamite), as armas atômicas desenvolvidas alguns anos depois chegavam a 50 megatons (o mesmo que 50 milhões de toneladas de dinamite). Daí, o arsenal nuclear das nações chegava a ter poder de destruir o planeta terra algumas milhares de vezes.
Hoje, a memória das armas nucleares podem até estar esquecida, mas vale lembrar que o mundo ainda poderia ser destruído por um ocaso nuclear algumas centenas de vezes, sendo que muitas armas de destruição em massa foram criadas e continuam a ser desenvolvidas em uma indústria bélica que nunca para de crescer.
Depois das bombas nucleares de urânio, vieram as bombas H (as mais destrutivas) e as bombas de neutrons, que caem como um flagelo elétrico que mata tudo à sua volta, deixando de pé as cidades e construções, o que facilitaria um esforço de invasão e domínio.
Infelizmente o terror da rosa atômica de Hiroshima não foi suficiente para frear a loucura armamentista. Por isso, pensem nas crianças, mudas, telepáticas... não se esqueçam da rosa, da rosa, da rosa com cirrose, a rosa radioativa, a anti-rosa atômica, sem cor, sem perfume, sem nada!



Escrito por Edward de A. Campanário Neto

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembro-me da tristeza de quando eu era criança a ouvir esta canção, eu queria saber o por que os homens eram capaz de fazer algo assim... Este é um fato impactante na minha memória. Foi quando começei a descobrir a maldade humana. Queria muito ter ainda os mesmo olhos de criança... Para não me acostumar sempre com estas e outras atrocidades... Com olhares assim, talvez atrocidades como esta nunca acontecessem. Mas crescemos num solo chamado poder... E ele é mais atômico que as bombas, ele destrói todas as possibidades do amor, e como uma frase que li nos meus papéis de carta de infância, mas não sei de quem é a autoria, "o poder corrói os mais puros corações assim com o álcool corrói as mais brilhantes mentes".