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30 de nov. de 2010

O vaso esquecido

Até mesmo dos vasos esquecidos brotam novas esperanças, novos amores, novos sonhos... 

"Tomei o vaso nas mãos e, olhando de perto, vi nele o broto vivo e pulsante de uma nova planta, semeada ali por obra da própria natureza. Achei o fato muito curioso, já que este tipo de coisa não é comum fora dos jardins e áreas livres. Tocado pela simplicidade do momento, decidi então cultivar aquela planta, aguardar a flor que um dia me traria."

Em uma noite silenciosa de verão, enquanto de cuidava das violetas na sacada da varanda, achei necessário colocar um pouco mais de terra em seus vasos. Elas estavam em uma floração robusta, precisariam de um bom acréscimo de terra com húmus para manterem as flores e soltarem novas mudas.
Até aí nada demais. Peguei uma faca torta na gaveta do armário e fui aos fundos de minha casa, onde guardava algumas quinquilharias e vasos que não usava. Chegando lá e fitando um vaso com terra preta, tive uma surpresa interessante, ele já não estava mais vazio. 
Tomei o vaso nas mãos e, olhando de perto, vi nele o broto vivo e pulsante de uma nova planta, semeada ali por obra da própria natureza. Achei o fato muito curioso, já que este tipo de coisa não é comum fora dos jardins e áreas livres. Tocado pela simplicidade do momento, decidi então cultivar aquela planta, aguardar a flor que um dia me traria.
Por mais simples que tivesse sido o momento, eu senti uma grande satisfação. Aquela planta que germinou em meio ao escuro e à solidão foi uma prova muito valiosa sobre a vida e os acontecimentos  que a cercam. Fiquei pensando nos vasos esquecidos dentro de nossas almas, nos cantos úmidos e lodosos de nossas personalidades. Muitas vezes os reservamos para momentos que idealizamos, não permitindo que venha o novo e o simples, queremos reservas, reservas de tudo e todos.
Nosso mundo exige que tenhamos muitos recursos guardados e, na maioria das vezes, isso nos impede de usufruir dos mesmos, criando uma riqueza pobre, cheios vazios e felicidades tristes. É necessário mais do que nunca romper com este pensamento tão mesquinho e imbecil. Não somos reservatórios de sentimentos ou recursos, somos seres humanos! 
Eu bem que poderia ter arrancado aquela planta que surgiu sem que eu quisesse ou aguardasse pois, afinal, eu já tinha meus planos. Mas eu decidi dar uma chance àquela vida, permitir que minha rotina tivesse o toque às vezes tão belo do espontâneo. 
Infelizmente perdemos muito de nossa espontaneidade. Selecionamos nossos vasos e flores, nunca permitindo que surja algo novo, que as coisas aconteçam em um ritmo fora do cuidando de nosso suposto controle sobre a existência. Perder o controle não significa desordem, mas liberdade, liberdade para não nos prendermos a dogmas sem sentido criados por nossas rotinas tão frenéticas e esquisitas.
Quando você estiver cuidando de suas flores e jardins e encontrar um vaso com algo que não esperava ou não havia planejado, pense bem, veja ali novas possibilidades. Tenha certeza que isso se estende ao amor, ao trabalho, à fé, à família. A verdade é que sempre surgem coisas novas, mas nós insistimos em permanecer com as velhas, com nossas certezas e vasos vazios, vasos esquecidos nos cantos de nosso ser...

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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