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5 de nov. de 2010

A cidade


Adentre no pórtico da cidade e vislumbre a esperança de um mundo melhor

"Eu fiquei boquiaberto com cada detalhe que analisava naquela cidade tão incomum. Cheguei a me sentar para retomar o fôlego e organizar os pensamentos. Adentrei em um silêncio e pus-me a pensar. Será que eu estou morto? É esta a cidade de Deus? Se fosse, onde estaria Deus? Eu não o vejo...
Meu momento de quietude foi interrompido por um senhor de cabelos grisalhos que se assentou ao meu lado. Ele pousou a mão em meu ombro e começou a conversar, me explicando uma série de coisas sobre aquele maravilhoso lugar. Ele agia e reagia como se já me conhecesse, sem reservas em seu coportamento diante de mim, que lhe era um estranho.
...segundo ele eu não estava  morto e aquela não era a cidade de Deus, mas talvez um lugar que Deus gostava de viver, pois lá possuía a permissão para entrar, sair, ser visto, ouvido, compreendido. Com certeza naquela cidade as pessoas o amariam e receberiam seu amor. "

Esta noite tive sonho. Andava por uma longa calçada ladrilhada de pedras cinzas que levava a uma grande cidade. Era um lugar limpo e belo, onde vi coisas impressionantes. Em sua entrada havia um imenso e majestoso pórtico cercado de flores, com uma inscrição em letras esculpidas na rocha em um tom avermelhado: Aqui todos são iguais. Aquilo chamou minha atenção, o que me fez tão logo adentrar na formosa cidade. 
Passando por suas ruas pude contemplar uma circulação incomum de pessoas. Elas andavam de forma descontraída, sem apresentarem quaisquer indícios de pressa ou nervosismo. Elas sorriam uma para as outras, se cumprimentando. Todas pareciam se conhecer, demonstrando profundo cuidado e atenção quando se olhavam, se tocavam, gesticulando e se mostrando atenciosas e gentis.
Nas ruas não havia mendigos ou pedintes. Todos estavam bem vestidos e alegres, desde de crianças a velhos. Enquanto as mães faziam compras nos mercados, que não tinham guardas ou seguranças - lá o roubo não existia, já que todos tinham acesso a tudo que precisavam para viver - deixavam suas crianças às portas ou nas praças, sendo vigiadas por cada pessoa que passava pela rua.
Eu fiquei boquiaberto com cada detalhe que analisava naquela cidade tão incomum. Cheguei a me sentar no banco de uma praça para retomar o fôlego e organizar os pensamentos. Adentrei em um silêncio e pus-me a pensar. Será que eu estou morto? É esta a cidade de Deus? Se fosse, onde estaria Deus? Eu não o vejo...
Meu momento de quietude foi interrompido por um senhor de cabelos grisalhos que se assentou ao meu lado. Ele pousou a mão em meu ombro e começou a conversar, me explicando uma série de coisas sobre aquele maravilhoso lugar. Ele agia e reagia como se já me conhecesse, sem reservas em seu coportamento diante de mim, que lhe era um estranho.
Em meio a tantas coisas fantásticas eu externei as perguntas que haviam brotado de meu coração. A resposta? Bem, segundo ele eu não estava  morto e aquela não era a cidade de Deus, mas talvez um lugar que Deus gostava de viver, pois lá possuía a permissão para entrar, sair, ser visto, ouvido, compreendido. Com certeza naquela cidade as pessoas o amariam e receberiam seu amor. 
Eu concordei com o homem de cabelos grisalhos. Nossas cidades não têm lugar para para enxergarmos nada além de nossos desejos e próprios problemas. Nelas somos só mais alguém no meio da multidão, multidão esta que passa apressada e desatenta aos meninos que choram de fome, às mulheres violentadas, ao velhos abandonados, aos atingidos por balas perdidas, aos escravos das drogas e vícios, àqueles que vendem seus corpos nas esquinas quando decai a noite... 
Fiquei muito confuso ao pensar no fato de termos alcançado um patamar tão violentador de nossa existência. Expulsamos todos os dias de nossas vidas aqueles que mais precisam de nós e, na maioria das vezes, fazemos isto por decisão, não distração. Na verdade, somos mentirosos! Fingimos que estamos cansados ou preocupados, mentimos dizendo que ligamos e caiu na caixa postal... 
Além de tudo, somos ainda hipócritas! Convidamos a Deus para morar em nossa casa, mas rejeitamos os necessitados. É comum dizermos que oramos a Ele, mas o fato é que lhe infortunamos com nossas futilidades e desejos mesquinhos. Nestas conversas com Deus só nós que falamos, enquanto Ele aguarda pacientemente que fiquemos em silêncio para ter ao menos uma oportunidade de nos falar algo.
Estar naquela cidade tão perfeita me deu o desejo de viver nela para sempre. Comecei a achar que o velhinho ao meu lado era Deus, e logo lhe questionei. O senhor é Deus? Ele, estampando um largo sorriso, apontou para tudo à nossa volta, dizendo Aí está Aquele a quem procura.
Olhando os gestos, a vida, as pessoas... compreendi que Deus estava bem ali, transparecendo sua tão graciosa presença. Todos refletiam aquilo que o próprio Deus desejara quando criou algo à sua imagem e semelhança, lhe soprou vida nas narinas e o chamou de ser humano.
Eu quis ficar na cidade, mas o velho me disse que era preciso ir embora bem depressa e avisar a todos o que tinha visto e sentido. Mais do que descrever o lugar, seu desejo era que eu mostrasse ao mundo que aquela cidade era possível.
Depois de tudo isso, eu acordei. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

2 comentários:

Anônimo disse...

Que história maravilhosa, fiquei emocionada e quase sem palavras. Uma das coisas que me veio a mente foi a frase de Gandhi "seja mudança que você quer ver no mundo"... Mas isso é pouco, então penso "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", mas ainda não é o suficiente. É o espaço entre as pessoas, talvez não precisemos apenas fazer, ser vistos ou ver... Mas sim ser, e sendo apenas nós mesmos sem máscaras, assim como Deus nos vê... Pudéssemos permitir que Ele habitasse neste espaço entre nós.

Anônimo disse...

Que história maravilhosa, fiquei emocionada e quase sem palavras. Uma das coisas que me veio a mente foi a frase de Gandhi "seja mudança que você quer ver no mundo"... Mas isso é pouco, então penso "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", mas ainda não é o suficiente. É o espaço entre as pessoas, talvez não precisemos apenas fazer, ser vistos ou ver... Mas sim ser, e sendo apenas nós mesmos sem máscaras, assim como Deus nos vê... Pudéssemos permitir que Ele habitasse neste espaço entre nós.