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29 de nov. de 2010

Palavras


Palavras... precisamos urgentemente reconstruir sua significação em nossas vidas...

"Em certos momentos de minha vida busquei e rebusquei palavras para expressar meus sentimentos de forma que elas trouxessem compreensão sobre meu ser, mas, nos últimos anos, em uma aspiração mais sincera e humilde diante do Verbo, cheguei à conclusão de que já tinha palavras suficientes e que me era necessário não procurar por novas expressões, mas sim aspirar incessantemente a verdadeira significação de todas elas, palavras boas e ruins."
Palavras, o que são palavras? Palavras são a forma do pensamento, do sentimento, a concretude do abstrato. As palavras trazem as coisas à existência, as revelam, constroem... Mas há também de ser dito que as palavras ganharam vida própria, foram transformadas pelas habilidades e deficiências humanas, tornando-se também destruidoras de existências, baluartes de ilusões e espelhos de falsas identidades. Mas o que foi que aconteceu?
As palavras criaram o universo e toda a obra da Criação. Do meio do nada a voz de Tudo ecoou e assim foi feito. O Sujeito-Verbo pré-existente à própria existência, em tempo e lugar nenhum, bradou e disse: "Que se faça!" E o mais maravilhoso disso é que assim foi, e viu Ele que era algo bom. Indo além de sua independência e autonomia, mais fantástico ainda foi o ato de escolher dividir desta criação e, em um mistério de unidade em três faces, decidi(ram)u criar algo com o fôlego de vida, com uma centelha de sua magnitude, capaz também de ser e criar: "Façamos (...) à nossa imagem, conforme a nossa semelhança".
Este gesto foi em si a coração de toda excelência deste Ser. Suas palavras definiram toda a existência, definiram um linguagem única e uma relação tão ímpar com este fôlego de vida diante de todas as outras maravilhas por Ele criadas. Mas nos perdemos, nos distanciamos, rumamos por caminhos que não lhe agradavam e pertenciam... Diante do grande Verbo com essência de Tudo, fomos capazes de esvaziar a linguagem criando nossas próprias palavras, por nossas obras más subvertemos até mesmo o significado das coisas mais belas, até mesmo o Verbo foi distorcido por nossa maldade, distorcido não em seu ser, mas distorcido em nosso ser, em nossas frases, em nossa existência.
Por tudo isto atravessamos milênios de história marcados por um mundo de distorção, tragédias e destruições. As palavras tornaram-se armas, falsas justificativas e explicações para mascararem a essência do que realmente somos, instrumentos com a finalidade em esconderem os fatos sobre aquela profunda e última camada que há dentro de nossas almas. Isso nos consome, rouba os significados e faz com que nem saibamos exatamente quem somos, onde estamos e para onde estamos conduzindo nossa barca no profundo oceano da existência.
Em certos momentos de minha vida busquei e rebusquei palavras para expressar meus sentimentos de forma que elas trouxessem compreensão sobre meu ser, mas, nos últimos anos, em uma aspiração mais sincera e humilde diante do Verbo, cheguei à conclusão de que já tinha palavras suficientes e que me era necessário não procurar por novas expressões, mas sim aspirar incessantemente a verdadeira significação de todas elas, palavras boas e ruins.
A princípio foi difícil a escalada rumo aos novos significados e a essência das palavras. Tive que me desfazer de conceitos tão fúteis de mim mesmo, principalmente do conceito de minha suficiência. Sim, uma nova significação da existência depende quase que exclusivamente de reconhecermos nossa identidade no outro, em nossos semelhantes, pois fomos criados de forma única, mas em um contexto puramente pluralizado, apontando para relações de ser e trocas de vivências. Não somos suficientes, não nos bastamos, nunca nos bastaremos...
Agora as palavras tomaram novos rumos, estão tomando, pois não é fácil esta tarefa, é uma busca árdua. É preciso um alinhamento diário e constante com o Verbo, de forma que as palavras que surjam em minha alma e aquelas que se materializam em minha boca sejam capazes de criar, criar consciências sobre mim, alcançar às pessoas à minha volta e retornarem para mim sempre com tom de verbo, com o tom de ações que expandam a plenitude e restaurem as partes mais recalcadas e desfiguradas de minha alma.
Posso proferir palavras de gratidão diante do Verbo. Minha vida pode não ser marcada por palavras inventadas e cheias de glória terrena, mas tem como rumo uma existência que reconstrói a vivacidade de palavras como amor, amizade, perdão, simplicidade, renúncia... me cansei de termos como sucesso, prosperidade, glamour, empreendedorismo, capital humano... isto são falácias distantes de um propósito tão menos atrativo diante de algo infinitamente mais real e satisfatório.
Eu te convido a fazer este exercício, a viver um novo significado para as coisas belas e até mesmo para as mais sombrias, para tudo! Essa consciência pode situar seus caminhos e trazer uma série de verdades essenciais, mas invisíveis, sensações de que o amor que você vive pode ser uma fachada ou algo real que você não valoriza; que a dor que castiga sua alma é algo muito menor e menos importante do que se pensa ou que possui uma proporção que deveria te impulsionar a agir de forma mais enfática; que seus sonhos são fundados no vazio e são inúteis, precisando ser revistos ou que são reais, palpáveis e admiráveis, carecendo de uma esperança verdadeira e atitudes ousadas.
Diante de tudo isso devem estar soando em seu coração perguntas sobre como iniciar este processo, desencadear esta reação ao modo de enxergar o significado das palavras e as situar de forma real na existência. Pode ser algo com vulto de complexo, mas o segredo está em caminhos de simplicidade, exercícios de pequinês mediante à grandeza do Grande Verbo. Basta olhar para o céu azul ou nublado e ser grato pela vida, fitar os olhos da pessoa amada, sentar e observar a pureza de uma criança, sentir o soprar de vento no rosto e, por fim, ter certeza de que não existe ou acaso ou o nada, mas sim um Tudo sustentador do tudo mais, dentro e fora de você mesmo... o Grande Verbo com alma de todo sentido. 

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

Um comentário:

Anônimo disse...
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