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27 de out. de 2010

As Brumas de Avalon I: A Senhora da Magia

 
A Senhora da Magia traz uma verdeira revolução nos contos arturianos: o fator feminino

"Indo além de um romance com tom de drama que marcou a história dos contos arturianos, a autora nos leva constantemente a questionar nosso papel no universo, nossos verdadeiros amores e medos, a livre expressão, o destino e, primordialmente, o poder de nossas escolhas."


A obra da consagrada autora Marion Zimmer Bradley é um convite promissor para quem tem aprecia contos medievais e romances. A história traça o complexo e fascinante reinado Arthur, na Bretanha. O grande diferencial no estilo é que o foco da autora afasta-se da figura do rei lendário, protagonizando as mulheres à sua volta.
Marion cria, de forma fantástica, uma intrigante trama, onde o papel das mulheres é decisivo e envolvente. Em todo o enredo manifesta-se o cenário maravilhosamente bem situado do modo de vida bretão e do grande contraste entre a religião pagã de Avalon com o cristianismo, recém chegado naquela região. Neste contexto observa-se o conflito claro entre as religiões, luta pelo poder político e militar e, acima de tudo, um jogo de amor e ódio que une em um ciclo fascinante todos os personagens.
No livro o grande personagem que se destaca é Morgana, irmã do rei Arthur e sacerdotisa da deusa de Avalon, inserindo profundas reflexões e momentos tanto de profundo ódio quanto de intensa paixão. Na verdade, ela vive o grande conflito entre suas obrigações em relação ao cumprimento dos desígnios da deusa-mãe e o caminho que lhe apontam suas próprias paixões e medos.
Indo além de um romance com tom de drama que marcou a história dos contos arturianos, a autora nos leva constantemente a questionar nosso papel no universo, nossos verdadeiros amores e medos, a livre expressão, o destino e, primordialmente, o poder de nossas escolhas.
Outro ponto bastante interessante que vale ser salientado em A Senhora da Magia é a discussão erguida sobre a intolerância religiosa. Na trama, o conflito entre a religião pagã e o catolicismo ergue observações interessantes sobre diversidade religiosa. Confesso que o livro foi uma inspiração inicial para a construção da temática de minha monografia no curso de graduação em pedagogia, que tratou justamente do tema de intolerância religiosa.
Envolvente, apaixonante, belo, trágico... a união destes termos faz de A Senhora da Magia uma leitura essencial para se saber extamente quem se é diante do turbilhão de mudanças que ocorrem à nossa volta. Vale a pena conferir. Boa leitura!

Escrito por Edward de A. Campanário Neto
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Edward! Nunca tinha visto por este ângulo! Os quatro volumes são fantásticos, eu abandonei a leitura pois me sentia fascinada, mas em conflito com o universo pagão e Cristão... Conflito com meus 'pré-conceitos' religiosos. Na trama sempre ficava muito claro para mim que o Cristianismo era o 'vilão', o mais ignorante castrador de sonhos na história. Por outro lado... O paganismo muito mais próximo da essência feminina das intuições e liberdade. Porém, na prática da vida... Assim como Morgana, sentia que não era nem uma coisa nem a outra. Não é uma religião que nos conduz à vida, mas a vida em nós que escolhe os caminhos que parecem estar designados, mas que são desenhados mediante aos nossos sonhos e desejos. Não há predestinação, mas há um caminho e limitá-lo a esta ou aquela religião pode ser perder-se... Como Morgana se sentia, a parte dos mundos a sua volta... Ela é toda "bruma"... Fiquei com vontade de reler a história! Certamente agora com um novo olhar...

Anônimo disse...

Inicialmente eu também tive o mesmo tipo de conflito mas, sendo insistente, alcancei uma percepção mais reflexiva sobre a tolerância religiosa. A obra despertou em mim o sentimento do respeito mútuo à crença alheia, coisa que não era observada por Morgana (que deseja o triunfo absoluto da religião da deusa) e pelos sacerdotes católicos (que usavam de poder político e medo para obrigar as pessoas a mudarem suas crenças em prol do catolicismo).
Neste meio termo havia o merlim, que se firmava na religião da deusa mas via o cristianismo como escolha do povo e que, portanto, deveria ser respeitada.
Religiões não passam de escolhas e todas as escolhas, independentemente de nossas crenças, devem ser respeitadas.