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18 de out. de 2010

O Brasil está construindo uma bomba atômica?

Segundo especialista alemão, Brasil mantém um programa nuclear paralelo

Passeando pelas vias da internet, encontrei algo que despertou minha atenção: um pesquisador alemão levanta suspeitas de que o Brasil está desenvolvendo armas nucleares.
De antemão, achei um absurdo demasiadamente inconveniente e, refletindo mais fundo, enxerguei o óbvio: as potências se incomodam com a ascenção de países antes miseráveis e fantoches em seu joguete mundial. Nesse ponto encontra-se a fúria dos EUA e Europa contra a China, contra o Irã e, ao que tudo indica, contra o Brasil.Enéas, quando candidato a presidente, é que sonhava a louca utopia de um Brasil com armas nucleares

É fato que nos próximos anos a diplomacia brasileira terá um trabalho muito maior no sentido de relacionamento com os países mais ricos, pois estes não conseguem aceitar que a nossa velha república das bananas e do quintal dos EUA e do FMI seja transformada em um farol de desenvolvimento e igualdade no hemisfério sul, minando os interesses imperialistas das nações do norte.
É claro que tudo isso é, de certa forma, bastante relevante, pois para invadirem o Iraque foram necessárias algumas invenções de armas de destruição em massa, que todos sabemos que nunca existiram. A situação do Iraque foi bastante diferente da que vivemos agora, mas já é um sinal claro de que a ONU está nas mãos das nações ricas e teria pouca força ou nenhuma para intervir em favor do Brasil, dadas as especulações sobre nossa aproximação com o Irã e de nossos "projetos ocultos" de criação de armas nucleares.
Abaixo, segue a entrevista do pesquisador Hans Rühle, concedida à repórter Christina Krippahl, pela Deutsche Welle, sobre os dados apresentados na revista alemã Internationale Politik:
Deutsche Welle: Em quais fatos o senhor se baseou para escrever o artigo?

Hans Rühle: Primeiro, é preciso lembrar que o Brasil teve três diferentes programas nucleares entre 1975 e 1990. Eles acabaram, mas não está claro o que aconteceu com eles. E constato que, desde 2003, há desenvolvimentos difíceis de interpretar.
Por um lado, o Brasil é membro do Tratado de Não-Proliferação. Por outro, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica se deparam com grandes obstáculos quando querem inspecionar o território. O país também se recusa a permitir controles de centrais nucleares não declaradas oficialmente.
E também é preciso dizer que o Brasil tem um programa de submarino nuclear que também está vedado aos inspetores. Sabemos que o grau de enriquecimento de urânio desse tipo de programa permite a construção de armas atômicas.

Deutsche Welle: Mas o Brasil é um signatário do Tratado de Não-Proliferação...

Hans Rühle: Este é o problema: o Brasil não assinou o protocolo adicional do acordo, que amplia os poderes de controle da agência. Acho que só 4 ou 5 países não assinaram o acordo, entre os quais o Brasil. (nota do editor: o acerto adicional foi assinado por 98 países).
Esse protocolo autoriza o livre acesso a todos os locais de atividade nuclear, a qualquer hora, sempre que houver uma suspeita, de modo que os inspetores possam investigar todas as instalações. Os brasileiros não assinaram esse protocolo, o que significa que as autoridades de Viena só podem visitar as instalações declaradas.

Deutsche Welle: Mas o presidente Lula já disse várias vezes que o Brasil não assinará essa parte do tratado.
Estamos falando de um país democrático, com uma Constituição que proíbe o uso de armas nucleares.

Hans Rühle: Essa proibição está numa Constituição de 1988, formulada por um governo anterior à presidência de Lula. E ele já deixou claro que não concorda com as decisões então tomadas, nem com a assinatura do Tratado de Não-Proliferação, nem com a proibição constitucional de armas atômicas.
Além disso, a Constituição não permite a construção de armas atômicas, mas autoriza as chamadas "explosões nucleares pacíficas", que, no fundo, não são muito diferentes de explosivos nucleares. São diferentes só no nome.
O melhor exemplo disso é a Índia, que nesse caso serve de modelo para o caso brasileiro. Em 1974, a Índia realizou uma dessas explosões e a declarou como pacífica. Hoje sabemos dos próprios indianos do que se tratava de fato. O responsável pela operação afirmou, 23 anos depois: "Claro que foi uma bomba, e de forma alguma pacífica".
Além do mais, a Constituição brasileira permite ser contornada.

Deutsche Welle: Mas você disse em seu artigo que não há provas concretas de que o Brasil esteja construindo uma bomba. Quão grande é o risco de que isso seja verdade?

Hans Rühle:Essa questão de evidências sempre é difícil. Podemos fazer uma comparação entre Brasil e o Irã. Sabemos mais sobre o Brasil do que sobre o Irã. Citei o vice-presidente argentino, que há um ano disse que o país precisa de armas nucleares. No Irã, isso jamais foi dito por líder algum. Ou seja, no caso brasileiro, estamos significativamente à frente.
Temos um conhecimento relativamente reduzido sobre as instalações brasileiras. Mas sabemos que o Brasil tem possibilidades infinitamente maiores no que diz respeito ao processo nuclear. O país já faz isso há 30 anos e domina todas as etapas do processo.
Não foi à toa que citei os institutos americanos de Los Alamos e Livemore, segundo os quais o Brasil, se quiser, pode construir armas nucleares em três anos.
Não posso dizer, no caso brasileiro, quando isso vai acontecer, pois não sei quando o programa começou. Aliás, provavelmente ninguém sabe, a não ser os brasileiros.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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