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26 de out. de 2010

A luta pelo direito de ser

Somos verdadeiramente livres ou fomos ensinados a crer nisso?
O nosso mundo não seria resultado da criação de um grande sistema, como a Matrix? 

"Mas o que seria a "força sombria" que domina o mundo? Como identificar e combater a Matrix que distorce o real diante de nossos olhos? A resposta para tais perguntas aponta diretamente para o coração da Matrix: o lucro."


A humanidade tem travado questões e lutas desde seus primórdios. As dificuldades e resistência diante do mundo levaram nossos antepassados a vivenciarem batalhas aguerridas em prol de sua sobrevivência, do enfrentamento aos cataclismas, da liberdade contra a opressão, no combate a epidemias e, em estágios mais avançados de civilização, a lutarem pela democracia, pela liberdade, pelo livre exercício da religião...
Na atualidade as questões sociais e a "eterna luta" ainda continuam como uma temática central em todo mundo, mas podemos constatar o que seria uma nova abordagem do conceito de enfrentamento. Muito mais que lutar para sobreviver, travamos, todos os dias, a batalha pelo direito de ser.
A sociedade se tornou extremamente complexa e diversificada e, como em outros momentos da história, há sempre um grupo que mantém seu domínio sobre o restante de seus semelhantes. Tal fato toma uma nova proporção hoje devido ao tipo de domínio que nos tem sido imposto. Antes, se víamos a burguesia, o clero e a nobreza como dominadores absolutos das classes populares, constatávamos também que os dominados conheciam seus dominadores e tinham consciência de que eram dominados, independente de uma visão religiosa ou sócio-política.
O grande contraste entre o domínio pela força e pela fé de tempos antigos e o domínio de nosso século se dá justamente no ponto de delimitação do fator de dominação. Não há dúvidas de que existe uma ordem global e opressora, mas esta se encontra quase invisível diante da maioria da humanidade. Ou seja, há bilhões de pessoas que pensam que são livres mas, em essência, não o são. Suas decisões e os rumos de suas vidas foram inconscientemente criados por um consciência coletiva oculta baseada em um modelo individualista na economia e na sociedade.
Sendo assim, a grande luta a ser travada no século XXI é a superação da falsa liberdade vendida por uma ordem oculta e dominadora. Tal superação compete ao questionamento de valores, conceitos e à problematização constante diante do mundo dado. Só a condição de questionamento nos conduzirá a respostas que revelem a grande armação do atual estágio de desenvolvimento humano, que se preza em prol do capital e do mundo do consumo.
Fazendo uma anologia ao filme Matrix, podemos considerar que estamos, todos, vivenciando algo bastante parecido à temática proposta em tal obra da ficção. Isso mesmo, vivemos em uma prisão da qual não temos consciência e, portanto, não tentamos escapar dela, o que torna a situação ainda mais sofrível.
Mesmo olhando para tempos sombrios e remotos de dominação humana, nunca houve tanto condicionamento social. Destacando novamente, a diferença com tais tempos se dá diante da forma "pacífica" com que somos sutilmente conduzidos em todos os âmbitos possíveis, o que nos leva a crer que somos livres.
A Matrix do cinema traz à tona o conceito de sociedade controlada por uma força invisível, que, pouco a pouco, delimita nossos espaços e nosso modo de conceber o mundo. Essa força oculta, com dotação de "A Mão que Balança o Berço", molda o espaço à nossa volta e cria um mundo de ilusões, visando unicamente roubar nossa verdadeira identidade.
Mas o que seria a "força sombria" que domina o mundo? Como identificar e combater a Matrix que distorce o real diante de nossos olhos? A resposta para tais perguntas aponta diretamente para o coração da Matrix: o lucro.
O lucro concebido pelo modelo capitalista tornou-se um verdadeiro vírus, que se espalhou e contaminou toda a humanidade. Ele fugiu ao controle e criou uma desigualdade extrema que se materializou nos grandes conglomerados industriais e comerciais, nas grandes instituições financeiras e, por fim, nos governos mundiais. Tendo uma super-estrutura em torno de si, a busca pelo lucro criou o mundo que vemos - ou achamos que vemos -, marcado por cenários distintos da riqueza de tão poucos e miséria muitos.
Neste mundo de ilusões, somos domesticados a acreditar que a desigualdade é natural, assim como a fome, certas guerras e as condições sofríveis de nossos semelhantes. Somos induzidos a desejar coisas que nunca nos servirão para nada além de inflar o nosso ego e manter o domínio do sistema sobre nossas vidas e mentes.
Para vencermos a luta pelo direito de ser temos de abandonar nosso egoísmo e olhar com olhos e mentes críticas ao belo mundo de fama e glamour que nos é apresentado pelos BBBs, pelas novelas, pelo filmes, pelas propagandas comerciais, pelos produtos de grife e luxo, pela ostentação e pelo chamado do empreendedorismo... Todos estes instumentos, no fim, apontam para seres humanos pisando em seres humanos para ascenderem ao mundo de ilusões da grande Matrix, num processo que se eterniza na manutenção do ciclo de auto-suficiência de dominação.
Chegou a hora de darmos um basta aos programadores da Matrix e seus apelos sedutores. Não será fácil para a humanidade se desvencilhar deste "belo mundo" ao qual fomos doutrinados a chamar de belo. A verdade é que ele não passa de uma tralha manchada de sangue e desgraça que não deixará de consumir vidas e nações inteiras até que vençamos a batalha pelo direito de ser.

Escrito por Edward de A. Campanário Neto

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