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21 de out. de 2010

Reconstruindo Jardins


 

Reconstruindo os Jardins
 
Como permitimos? Como fomos capazes?
Por que ignoramos a obviedade dos fatos?
Por que não nos atemos ao mal vindouro?
 *
Fomos coniventes com o erro e com os ventos da impunidade
Agora estamos diante de uma grande desolação
Nossos jardins foram destruídos, perderam sua beleza
 *
As flores estão pisoteadas e mortificadas
O canto dos pássaros se silenciou
O que se ouve são ecos de balbúrdia
 *
Um longo inverno se manteve
As folhas caíram, mas a primavera não veio
O frio cortante nos pasma a cada dia
 *
As lagartas não se tornaram borboletas
Do mesmo modo nós não soubemos mudar
Tornamos-nos prisioneiros de nossos próprios casulos
 *
As cores já não existem mais, somente a penumbra noturna
Aos poucos a sombra da bruma toma nossos jardins
Nosso antigo mundo de sonhos vestiu-se de mito e lenda
 *
Colhemos com lágrimas os frutos amargos do desafeto
Os espinhos fazem nossos dias serem árduos
Esse foi o resultado de tantas sementes de discórdia
 *
Mas ainda nos resta esperança, um renovo
Resta-nos a força de um novo amanhã
É o que nos basta para reconstruir os jardins
 *
Precisamos acordar de nossa longa hibernação
Temos de lançar novas e boas sementes
É necessário que nos lancemos com amor em prol desta árdua obra
 *
As ervas daninhas não serão facilmente arrancadas
Teremos de cavar e extraí-las do mais profundo de nosso ser
Pisaremos ainda em muitos espinhos e cardos
 *
Mas não será vã a obra de nossas mãos
Veremos o voltar das borboletas ao sabor das brisas
Os pássaros cantarão novamente suas delicias
 *
A reconstrução dos jardins trará novos sonhos e novas esperanças
Sentaremos à sombra contemplando dias de paz e alegria
Perguntaremos-nos por que permitimos que destruíssem nossos jardins
 *
A resposta será nítida e esclarecida
Ignoramos o agir silencioso de nossos interesses mais egoístas
Falhamos em domar a grande fera que habita em nosso ser: o ego

 Edward de A. Campanário Neto

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal o bolg! Gostei da reflexão do poema. Num mundo onde o foco é o "eu", novos olhares nos impulsionam a ver o outro e nos rever de uma forma melhor!

Sara disse...

Linda poesia!Parabéns!

Anônimo disse...

Até hoje me emociono com esta poesia. Ela surgiu em momento de muita reflexão e reestruturação interna. Acho isso muito necessário.
Percebo que a grande encruzilhada que confunde os caminhos da felicidade é justamente o medo de não sermos felizes e pensarmos somente em nós mesmos.
Aprendi que a felicidade é algo que não se constrói em si mesmo ou no outro, mas sim COM o outro, vivendo, sofrendo, amando...