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25 de out. de 2010

O rio

O Rio


Do coração da terra, do meio das entranhas do mundo...
Se espremendo de seu útero sólido e escuro,
nasceu o rio na noite fria de luar
Como um sopro emergia para conhecer o vasto da criação
Passou a ver, a sentir... estava vivo

 *
Seu encontro com a luz foi-lhe uma revelação ao profundo de seu âmago
Com ela enxergou a si e a tudo que o cercava...
Refletiu o belo, o rude e o misterioso
Compreendeu que muito mais havia além de suas águas límpidas
Começou a revelar em pequenas gotas o infinito
*
Ao sabor do vento o rio vislumbrou perfumes e cores que sibilavam pelo ar
Ouvia sons em consonância com sua voz por entre as penhas,
Calou-se diante da beleza das vozes entre a terra e o céu
Elas chamavam por seu nome em um canto silencioso,
Traziam a sensação de sublime serenidade...  
 *
O rio também chorou em sua jornada, deixando marcas ao seu caminho de curvas e retas
Despencou por altas quedas e montanhas em uma explosão de dor e lamento
Tornou-se também revolto e furioso em suas águas, bramindo como uma fera acuada
O rio sentia, pulsava a vida que da terra brotara
 *
 E assim o rio seguia, indo além de seus próprios aléns...
Sentia em si o desejo incontrolável em prosseguir, em nunca mais parar
Mas, no fundo, o rio sabia de seu destino...
Assim como todo rio ele aguardava sua sina
Ainda que não soubesse onde ou quando, iria se concretizar
 *
Um dia tudo termina...  E terminaria também para o rio
Sim, um dia chegaria o seu momento... tão esperado, desejado e temido momento
Mas mesmo assim o rio seguia, escorrendo como um novelo pelos veios do mundo
Sorrindo, chorando, cantando, aprendendo e errando...
O rio se preparava para seu grande encontro, o encontro com mar

Edward de A. Campanário Neto

2 comentários:

Sara disse...

Mais uma linda poesia! O rio encontrando o mar...

Anônimo disse...

Lindo! Nosso caminho como Rio nesta vida e os desafios de nunca sermos os mesmos sem perder a essência, nos juntando ao desafio dos nossos sonhos: O mar. Amei!